Violência medida pelos homicídios em Sumé e Monteiro, principais cidades do Cariri paraibano


Por José Maria Nóbrega Jr. – Coordenador do Núcleo de Estudos da Violência da UFCG (NEVU), professor do CDSA/UFCG, Campus de Sumé.

Na semana passada tivemos a visita do Secretário de Segurança Pública da Paraíba, Senhor Cláudio Lima, para discutirmos em nossa cidade, Sumé, os problemas enfrentados pelos seus cidadãos em relação a (in)segurança pública. Na sua fala, o Secretário afirmou que o Cariri tem números de “Suíça” e, portanto, não gera tanta preocupação por parte do gestor. Contudo, a violência medida pelos homicídios tem seus problemas metodológicos. Primeiro, medir as taxas por cem mil habitantes de modo global – somando toda a região em seus mais de vinte e cinco municípios – se mostra equivocada no sentido de que a maioria é micro município e os dois principais deles, Sumé e Monteiro, concentra a maior parte da população e de sua economia e modus social. Segundo, avaliar os números por períodos longos é fator decisivo. Pelo que vemos, os governos não fazem séries temporais em suas análises, apenas comparam ano por ano, ou seja, os anos do governo anterior ou do ano anterior com o ano subsequente. Terceiro problema: seria fundamental outro tipo de cálculo para medir o impacto dos assassinatos em pequenos municípios. No entanto, não vou me deter nesses problemas, mas apenas analisar o impacto da violência homicida nos dois principais municípios do semiárido paraibano.

Gráfico 1. Números Absolutos de Mortes por Agressão (Homicídios e Latrocínios) em Sumé e Monteiro – 1996/2012



Fonte: DATASUS/SUS/MS/SIM. 

Foram 87 assassinatos no somatório das duas cidades entre 1996 e 2012. Dos quais 34 em Sumé e 53 em Monteiro, 40% e 60% respectivamente. O que espanta é o período concentrado dos assassinatos. Em Monteiro, cidade com média de 30 mil habitantes, foram perpetrados 11 assassinatos entre 1996 e 2003, ou seja, apenas 20% dos homicídios de todo o período. De 2004 a 2012 foram assassinadas 42 pessoas em Monteiro, 80% das mortes do período 1996-2012. A média do primeiro período (1996-2003) foi de apenas 0,5 assassinatos em Monteiro, enquanto a mesma média no segundo período (2004-2012) foi de 7 assassinatos anuais. Crescimento exponencial que deve, sim, ser levado em consideração como ponto crítico pelas autoridades.

Em Sumé, a dinâmica foi mais dispersa. Entre 1996 e 2003 foram perpetrados 12 dos 34 homicídios, o que equivale a 32% dos números. Entre 2004 e 2012 foram vitimadas 22 pessoas, equivalente a 68% dos dados. De toda a forma, a concentração no segundo período é visível. A violência é mais expressiva no segundo momento. Deve-se destacar que a epidemia do crack começa em 2005 aqui no Nordeste, sobretudo em Pernambuco.

Os últimos anos da série histórica demonstram que os homicídios vêm sendo praticados com mais frequência nos dois municípios. Não obstante ainda termos dados possivelmente subnotificados, o tráfico de drogas, o arrombamento de caixas eletrônicos e os frequentes assaltos e furtos vem preocupando os cidadãos dessas duas cidades. Sabe-se que o tráfico é crescente na região já que várias operações, sobretudo em Monteiro, desarticularam e desbarataram grupos criminosos organizados, com destaque ao tráfico de drogas. Sabe-se, também, que os focos de vendas de drogas se encostam nas periferias das cidades, em seus bairros mais pobres. Com todas essas informações, a gestão da segurança deveria ser mais eficiente.

A sociedade não estava errada, nem iludida, quando cobrou do Secretário mais ações. Vimos, naquela sexta-feira, que a democracia se faz, também, com a participação da sociedade civil, de forma organizada e ordeira. É assim que pressionamos os gestores públicos de qualquer instância de nossa federação. Continuaremos a fiscalizar e a subsidiar a sociedade caririzeira no sentido de termos paz e segurança para todos os seus cidadãos.


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