Violência no Brasil: o Nordeste representa 37% dos homicídios


José Maria Nóbrega – cientista político e professor da UFCG/Coordenador do NEVU


A violência medida pelos homicídios é uma forma internacional de se avaliar o nível de segurança ou insegurança pública fornecida por determinada sociedade, através do Estado como monopólio da força. Quando esses dados se mostram descontrolados, a sociedade pode entrar em colapso. Quando os dados de assassinatos estão acima dos 10/100 mil homicídios da população, algo está errado. No caso do Brasil, está errado há muito tempo. São mais de dez anos com indicadores superiores ao tolerável, com poucos casos de declínio ou tendência de declínio dos indicadores de violência. O que vemos é uma situação do tipo endêmica.

Em quase todas as regiões do país houve crescimento da violência medida pelos homicídios. A única que apresentou decréscimo nos indicadores de homicídios foi o Sudeste, onde, em 2000 houve 26.448 assassinatos e, em 2012, uma redução de 35% nos números absolutos de homicídios com 17.155 assassinatos. A maior redução ocorreu na taxa por cem mil, que caiu de 36,5/100 mil, em 2000, para 21/100 mil em 2012, com -42.4% de decréscimo.

A região que apresentou maior crescimento em números absolutos foi o Norte, com incremento percentual de 154,5%. Em 2000, foram 2.391 homicídios e, em 2012, foi de 6.087 homicídios. O maior incremento percentual nas taxas por cem mil se deu no Nordeste, com 101% de crescimento. Em 2000, a taxa foi de 19.3/100 mil e, em 2012, esta saltou para 38.9/100 mil, também sendo a maior taxa do país. O Nordeste foi responsável pela maior parte dos assassinatos, correspondendo a 37% dos números totais de homicídios do país. Em 2000, representava 20% do total nacional.

Tabela. Números de Homicídios – População – Taxas por cem Mil Habitantes - % de variação – 2000/2012
Região/UF
2000
pop
taxa
2012
pop
taxa
% 00-12 n ab
 % 00-12 tx
Região Norte
2391
12900704
18,53
6087
16347807
37,23
154,58%
100,92%
Rondônia
466
1379787
33,77
524
1590011
32,96
12,45%
-2,40%
Acre
106
557526
19,01
208
758786
27,41
96,23%
44,19%
Amazonas
552
2812557
19,63
1344
3590985
37,43
143,48%
90,68%
Roraima
130
324397
40,07
143
469524
30,46
10,00%
-23,98%
Pará
806
6192307
13,02
3236
7822205
41,37
301,49%
217,74%
Amapá
156
477032
32,7
253
698602
36,22
62,18%
10,76%
Tocantins
175
1157098
15,12
379
1417694
26,73
116,57%
76,79%
Região Nordeste
9245
47741711
19,36
20978
53907144
38,92
126,91%
101,03%
Maranhão
351
5651475
6,21
1775
6714314
26,44
405,70%
325,76%
Piauí
230
2843278
8,09
525
3160748
16,61
128,26%
105,32%
Ceará
1232
7430661
16,58
3841
8606005
44,63
211,77%
169,18%
Rio Grande do Norte
257
2776782
9,26
1123
3228198
34,79
336,96%
275,70%
Paraíba
507
3443825
14,72
1525
3815171
39,97
200,79%
171,54%
Pernambuco
4290
7918344
54,18
3326
8931028
37,24
-22,47%
-31,27%
Alagoas
727
2822621
25,76
2046
3165472
64,63
181,43%
150,89%
Sergipe
409
1784475
22,92
879
2110867
41,64
114,91%
81,68%
Bahia
1242
13070250
9,5
5938
14175341
41,89
378,10%
340,95%
Região Sudeste
26448
72412411
36,52
17155
81565983
21,03
-35,14%
-42,42%
Minas Gerais
2107
17891494
11,78
4558
19855332
22,96
116,33%
94,91%
Espírito Santo
1432
3097232
46,23
1667
3578067
46,59
16,41%
0,78%
Rio de Janeiro
7328
14391282
50,92
4586
16231365
28,25
-37,42%
-44,52%
São Paulo
15581
37032403
42,07
6344
41901219
15,14
-59,28%
-64,01%
Região Sul
3867
25107616
15,4
6630
27731644
23,91
71,45%
55,26%
Paraná
1779
9563458
18,6
3455
10577755
32,66
94,21%
75,59%
Santa Catarina
424
5356360
7,92
811
6383286
12,71
91,27%
60,48%
Rio Grande do Sul
1664
10187798
16,33
2364
10770603
21,95
42,07%
34,42%
Região Centro-Oeste
3409
9585582
35,56
5487
14423952
38,04
60,96%
6,97%
Mato Grosso do Sul
650
2078001
31,28
682
2505088
27,22
4,92%
-12,98%
Mato Grosso
990
2504353
39,53
1060
3115336
34,03
7,07%
-13,91%
Goiás
1082
5003228
21,63
2793
6154996
45,38
158,13%
109,80%
Distrito Federal
687
2051146
33,49
952
2648532
35,94
38,57%
7,32%
BRASIL
45360
169799170
26,71
56337
193976530
29,04
24,20%
8,72%
Fonte: SIM/DATASUS. IBGE. Cálculo das taxas do Autor. Populações estimadas pelo IBGE.

Anatomia dos números

Apesar da região Norte apresentar crescimento expressivo da violência no agregado, os Estados de Rondônia e Roraima apresentaram redução nos números de suas taxas de homicídios no comparativo 2000/2012. Rondônia um decréscimo de -2,48% e Roraima, maior redução, de -23,4%. Contudo, esse decréscimo se deu por questão do crescimento populacional, pois houve aumento nos números absolutos de homicídios nestes dois Estados, com 10% de incremento em Roraima e 12,4% em Rondônia. O Estado mais violento do Norte foi o Pará, com crescimento de 301% nos números absolutos de homicídios e de 217% nas taxas.

Pernambuco foi o único Estado da região Nordeste a apresentar redução nos números de homicídios, com -22,4% nos números absolutos e de -31,2% nas taxas, comprovando uma redução efetiva da violência no período 2000/2012, já que o aumento populacional do período não incomodou o processo de redução, não obstante, o Nordeste ser a região que está no topo do ranking regional da violência. O Estado recordista da violência no Brasil foi o Maranhão com 405% de crescimento nos números absolutos de homicídios e de 325,7% nas taxas por cem mil, entre 2000 e 2012. Seguido da Bahia, que teve 378% de crescimento nos números absolutos de homicídios.

O Sudeste é a região mais impactante em termos de redução da violência. Apesar disso, não refletiu numa redução a nível nacional. Isso se deu por que, a partir de 2006, houve uma mudança de rumo nos números na relação Sudeste/Nordeste. O processo de crescimento se tornou mais acentuado no Nordeste - o que corroborou com a nossa tese sobre o processo migratório da violência do Sudeste para o Nordeste. Já no Sudeste, o declínio dos números foi de -42,4%  nas taxas por cem mil e de -35,5% nos números absolutos. 

Os Estados do Rio de Janeiro e de São Paulo foram impactantes e os que mais conseguiram reduzir a violência em todo o país. Respectivamente, reduções de -37,4% nos números absolutos e de -44,5% nas taxas por cem mil, e de -59,2% nos números absolutos e de -64% nas taxas por cem mil. Com o recorde na redução da taxa de homicídios, São Paulo caiu das primeiras posições do ranking nacional em 2000, para a penúltima posição em 2012.

Na região Centro-Oeste, os Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul apresentaram dinâmicas de violência parecida com as dos Estados de Roraima e Rondônia. As taxas de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul foram reduzidas em -12,9% e -13,9%, respectivamente, no período 2000/2012, sem, contudo, ocorrer o mesmo nos números absolutos que apresentaram, apesar de pequeno impacto, crescimentos percentuais.

A situação do Distrito Federal também não é das melhores. O crescimento dos homicídios absolutos foi de 38% e as taxas de homicídios cresceram na ordem de 7,3%, no período 2000/2012.

No geral, a violência cresceu no Brasil. O Nordeste é a região mais crítica do país com números de guerra, uma endemia da violência que precisa, urgentemente, ser contida.

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