Os fundamentos teóricos do Tolerância Zero: Broken Windows
As janelas quebradas seriam uma alusão aos
espaços públicos vertidos de pequenas incivilidades. Pichações, urinar em público,
bêbados na rua, moradores e meninos de rua, invasões de áreas públicas e
privadas, dentre outros levariam a comportamentos destrutivos do espaço urbano
dando a impressão de que não existe ordem. Com esses alargamentos, o crime
seria o próximo passo.
Essa teoria
tem como base analítica a intenção de medir a relação causal entre desordem e
criminalidade. Parte de um princípio normativo que define desordem como um
comportamento inadequado, como já citado anteriormente, também relacionado a
pequenas incivilidades. A fragilidade do controle social por parte das
autoridades públicas abriria espaços de oportunidades para práticas delituosas
advindas do comportamento desordeiro.
Há uma certa
ligação da teoria Broken Windows com
aquelas sustentadas por Sutherland, sobretudo as ligadas a desorganização
social e ao aprendizado social. Contudo, o foco da teoria é o ambiente
abandonado pelo poder público que geraria espaços oportunos de práticas
desordeiras ou delituosas.
Skogan (1990)
realizou uma pesquisa em algumas cidades americanas para tentar medir o impacto da desordem na criminalidade. O
estudo resultou numa forte correlação entre desordem social e criminalidade,
onde a sua pesquisa – que foi baseada num total de 13.000 entrevistas em Atlanta,
Chicago, Houston, Filadélfia, Newark e São Francisco – demonstrou que a
desigualdade, a pobreza e o desenvolvimento econômico tinham pouca relação com
o crime, mas as desordens provocadas por espaços abandonados e comportamentos
advindos da falta de controle social estariam na raiz da criminalidade naquelas
cidades analisadas.
Kelling e
Coles (1996) demonstraram a relação causal entre criminalidade violenta e a não
repressão de pequenos delitos e contravenções. Apontaram que a polícia americana
veio abandonando seu caráter de controle e manutenção da ordem pública no
século XX, para dedicar-se exclusivamente ao combate à criminalidade. O aumento
da violência estaria, segundo os autores, ligado a mudança de estratégia
adotada pela polícia. A prevenção do crime também era atributo da polícia e,
com o passar do tempo, ela arrefeceu seu caráter preventivo apenas dedicando-se
a combater a criminalidade. O papel do policial como agente da comunidade,
entrando e convivendo com a comunidade foi abandonado favorecendo o
aparecimento de escotilhas sociais para a prática delituosa.
Kelling e
Coles (1996) colocaram a necessidade de criação de uma relação de confiança entre a comunidade e a polícia
para a geração de accountability por
parte daquela. Sem confiança institucional seria praticamente impossível manter
a ordem pública e, ao mesmo tempo, combater à criminalidade violenta. A
confiança seria o combustível para uma relação de reciprocidade entre a
comunidade e a polícia que depende muito dessa relação para solucionar crimes.
Por isso, para os autores supracitados, é de fundamental importância o
policiamento comunitário para a criação do vínculo de confiança entre a polícia
e os indivíduos da comunidade em questão.
O abandono por
parte da polícia da manutenção da ordem pública levou ao recrudescimento da
criminalidade, pois das pequenas janelas quebradas - pequenas incivilidades
como fora destacado em Soares (2008) -, foram gerados espaços mais amplos de
abandono de onde, da metáfora das janelas quebradas, o restante da casa ou do
edifício fora completamente abandonado. As pequenas incivilidades geraram os
pequenos delitos e furtos e desses para o crime mais violento, como os
homicídios.
Ver a bibliografia citada em: http://www.opiniaopublica.ufmg.br/biblioteca/tese%20jose%20maria%20(publicar%20biblioteca).pdf
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