Relação entre extrema pobreza e violência na Paraíba
José Maria Nóbrega Jr. – Professor e Pesquisador da
UFCG.
Em estudo realizado
pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) foi demonstrado que o Programa
Bolsa Família teve um impacto de 28% na redução da miséria no Brasil no ano de
2012. De acordo com o referido
estudo, o percentual de miseráveis, que era de 3,6%, subiria para 4,9%, caso o
Bolsa Família não existisse. A estimativa utilizou a linha oficial de pobreza
extrema, que classifica como miserável quem sobrevive com renda per capita de até R$ 70 por mês. Na
Paraíba, entre 2001 e 2009, o percentual de pessoas que vivem em extrema
pobreza diminuiu de 31,31% em 2001, para 14,57% em 2009. Uma redução de 54% no
percentual de pessoas em estado de miserabilidade na Paraíba nesse período (Cf.
gráfico 1). Mas, o que dizer da violência?
Boa parte da literatura sociológica vincula a melhoria da condição de
vida das pessoas com o arrefecimento da violência. Contudo, quando medimos os
indicadores que medem tanto um como outro, verifica-se que aquela literatura
“cai por terra” na relação entre a extrema pobreza, como variável utilizada
para medir a melhoria da condição de vida das pessoas, e os números absolutos
de homicídios, variável utilizada para medir o nível de violência de uma dada
realidade social. No caso aqui em específico, da Paraíba.
Gráfico 1. Percentual de Extrema Pobreza na
Paraíba entre 2001 e 2009
Fonte: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea).
Os dados de homicídios absolutos no referido Estado saltaram de 484
assassinatos em 2001, para 1.263 em 2009. Um incremento percentual nos números
de 161% (Cf. gráfico 2). Enquanto a extrema pobreza (miséria) diminuiu em 54%
no mesmo período, a violência cresceu mais de três vezes o nível do início da
série histórica.
Gráfico 2. Números Absolutos de Homicídios na
Paraíba entre 2001 e 2009
Fonte: Sistema de Informação de Mortalidade
(SIM/DATASUS).
Isso nos revela o quanto é importante à avaliação de políticas públicas
para averiguar quais as variáveis, ou indicadores socioeconômicos, que
realmente importam na hora de aplicar recursos públicos para a contenção da
violência e do descontrole social. Os homicídios são o principal proxy para medir o nível de
criminalidade e de violência de uma dada realidade. As variáveis
socioeconômicas clássicas para medir pobreza são às ligadas a renda e ao nível
de inclusão social (como os níveis de educação e analfabetismo, por exemplo).
Verifica-se melhoria em muitos dos indicadores sociais, como se pode conferir
com os dados de extrema pobreza, inclusive de desenvolvimento humano. Mas, a
violência continua, no caso da Paraíba, e do Nordeste no geral, crescendo. Não podemos
negar a contribuição da melhoria da condição de vida das pessoas para o
desenvolvimento humano e social, mas atrelar isso ao controle da violência
mostra-se como um erro de interpretação sociológica. Para qualquer teoria é
necessário o mínimo de comprovação empírica. Aqui, no máximo, podemos concluir
que a diminuição da miséria não condiciona o controle da violência e, por sua
vez, da criminalidade.
Comentários
Postar um comentário