Policiais estão despreparados
Membro da Comissão de Direitos Humanos diz que formação é deficitária e aulas de defesa pessoal e tiro são as que mais preocupam.
Valéria Sinésio
Valéria Sinésio
A formação de policiais, apesar de ser um tema de fundamental importância, parece ser negligenciada pela população, que não demonstra preocupação em saber como esses homens são treinados. No Centro de Ensino da Polícia Militar, a informação repassada é que a polícia é bem preparada. Mas há denúncias de que muitos policiais chegam às ruas sem saber atirar e fazer abordagem de pessoas suspeitas. O curso de nove meses de duração seria insuficiente para preparar os homens que estão na linha de frente da segurança pública.
De acordo com o sargento Astronadc Pereira, membro da Comissão de Direitos Humanos, não resta dúvida de que a formação policial na Paraíba é extremamente deficitária. Segundo ele, muitos policiais reclamam que não aprenderam a atirar nas aulas, pois a quantidade de tiro disparado é bem abaixo do recomendado. “Muitos soldados só aprendem a atirar nas ruas, o que é um risco para a população”, frisou. Ele disse que vem sendo observada uma melhora na formação dos praças nos últimos anos, mas os problemas ainda existem.
A qualidade das aulas de defesa pessoal e de treinamento de tiro, segundo o conselheiro, são as que mais preocupam, pois através delas é que os alunos aprendem as questões básicas da atividade policial. Segundo o sargento, não há um treinamento regular de tiro, o que compromete a formação.
“Tem policial que atira 100 vezes, outro que atira 30”, declarou. “Precisamos promover uma reforma profunda na polícia. O governo só se preocupa em colocar a tropa na rua para agir contra manifestantes, sem prepará-la adequadamente”, disse o sargento, criticando a formação de policiais não apenas na Paraíba, mas em todo o país. “Se o policial não aprende a atirar, ele vai para a rua sem segurança, isso é fato”, argumentou.
De acordo com o conselheiro, muitos soldados reclamam que têm muito medo de ir para comunidades com registros frequentes de violência justamente porque não se sentem preparados para atuar.
Enquanto estão no curso eles são escalados para trabalhar em eventos grandes, como o 'Maior São João do Mundo', em Campina Grande, o que também causa insatisfação e insegurança. Há muitos relatos de soldados recém-formados que não denunciam por medo de represálias, segundo o conselheiro.
As aulas de abordagem policial também são motivo de preocupação, conforme informou o membro da Comissão de Direitos Humanos. “A verdade é que o policial vai para as ruas sem saber como fazer a abordagem correta de pessoas suspeitas nas ruas”, revelou. Essa deficiência, segundo o sargento, acaba refletindo em denúncias de tortura e abuso de autoridade. “A Corregedoria deveria ser mais atenta, mais eficaz em relação a esses casos”, destacou. A falta de recursos agravaria a formação.
O curso de formação de soldados, segundo o conselheiro, não prioriza a polícia comunitária nem o diálogo entre policial e comunidade. “A consequência disso é o aumento da violência. O policial tem que ser treinado também para saber dialogar. Os alunos não têm aulas de sociologia, não aprendem nada a respeito”, frisou.
“Os ensinamentos são mais no sentido de bater continência e aprender a marchar”, criticou. A qualidade da refeição servida aos soldados também é motivo de insatisfação.
CFO ENSINA A AGIR EM SITUAÇÕES DELICADAS
Esses problemas, no entanto, parecem que não afetam o Curso de Formação de Oficiais (CFO), considerado, inclusive, como referência de qualidade no país. São três anos de preparação física e intelectual. O diretor do Centro de Ensino, coronel Sales Júnior, disse que os alunos aprendem como lidar com situações delicadas, como um sequestro, manifestação ou assalto com refém, por exemplo. “É uma preparação rígida que todos recebem durante o curso. Tudo que uma formação exige”, declarou.
Segundo o diretor do Centro de Ensino da Polícia Militar, coronel Sales Júnior, por ser tão rígido muitos alunos acabam desistindo do curso logo nas primeiras semanas. Os futuros policiais, que vão receber a missão de comandar a tropa, têm aulas de oratória, de direito, sociologia, psicologia, etc. “Eles são orientados a controlar as emoções diante de situações extremas, como em um assalto com reféns, por exemplo”, declarou. Nas aulas de sociologia eles aprendem a importância de entender as condições sociais da população. “Eles são preparados para a guerra real do cotidiano”, frisou.
Como a atividade policial exige também disciplina e estratégia, os oficiais têm aulas de xadrez, como forma de estimular o pensamento estratégico e a tomada de decisões diante de ocorrências policiais. A todo instante são desafiados a agir como se estivessem nas ruas. “As simulações de assaltos, perseguição e sequestros são frequentes. Na parte prática os alunos treinam com escudo e precisam ter um bom desempenho. Depois tudo é debatido em sala de aula, onde o professor mostra onde ele errou e acertou”, explicou o coronel. O CFO também inclui aulas de defesa pessoal, educação física e técnica de tiro defensiva.
A responsabilidade é outro ponto trabalhado desde o primeiro dia de chegada ao CFO. Cada aluno recebe uma muda de árvore para cuidar até o final do curso. A estudante do primeiro ano do curso Jaqueline Santos recebeu a missão e todos os dias cuidar da planta que fica no próprio Centro de Ensino, em Mangabeira. Para ela, a responsabilidade ajuda na formação. “A gente começa cuidando da natureza para saber cuidar da população posteriormente”, comentou.
Ela disse que sempre admirou a profissão, por isso decidiu prestar vestibular para o CFO. Jaqueline enfrentou a concorrência de 84 candidatos por vaga e conseguiu passar. Atualmente se mostra satisfeita com a preparação. “Temos aulas de postura, comando com a tropa, tratamento, defesa pessoal, treinamento físico. É uma preparação muito rígida que implica na mudança de comportamento da polícia, hoje não se fala mais em brutalidade, isso é passado”, declarou.
Para Miguel Magno Figueiredo, também aluno do primeiro ano, a formação é adequada. “Desde o primeiro dia que chegamos aqui recebemos responsabilidades que vão nos ajudar na preparação ao longo do curso”, disse. “Espero aproveitar ao máximo as instruções recebidas na academia. Sempre tive o sonho de ser um oficial, de ajudar a sociedade de forma direta”, comentou o aluno.
Realmente, a capacitação desses profissionais é importantíssima para nossa sociedade.
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