Por um individualismo burguês
José Maria Nóbrega Jr – Doutor em
Ciência Política pela UFPE e Professor Adjunto de Ciência Política da UFCG
Defender idéias, alocar recursos
e força para a luta de grupos de interesses parece ser ponto nevrálgico de
qualquer ideólogo. Quem está fora da luta, qualquer que seja a categoria
social, é sempre taxado de “alienado”. O país vem atravessando uma série de
reivindicações de diversas categorias do funcionalismo público, em sua maioria
funcionários públicos federais. Movimentos aqui e acolá, uns mais radicais
outros mais pacíficos, a “onda” de greves assola o solo brasileiro. Mas, e o
direito daqueles que não querem participar?
Lendo artigo de um colega da UFRJ
(http://revistaforum.com.br/blog/2012/07/a-greve-do-ensino-publico-e-as-engenharias/ )
espantou-me o teor de revolta do professor de engenharia para com seus colegas
de instituição e seus alunos. Quer dizer que o indivíduo não pode não querer participar
de um movimento paredista? Que o sujeito é obrigado
a agir coletivamente? E a Constituição, não vale nada?
Da mesma forma que os indivíduos podem
agir em coletivo para reivindicar interesses de classe, o indivíduo pode se
restringir aos seus interesses próprios. Não é ilegal, e quem assim age não
está se alienando como a maioria afirma. O individualismo burguês está no cerne
desta discussão.
Tendo origem ainda nos fins da
Idade Média, a burguesia foi revolucionária quando se rebelou contra o Rei
Carlos II na Inglaterra do século XVII e o Rei Luis XVI na França dos sans-culottes, em fins do século XVIII. O
individualismo está na raiz dos movimentos sociais do século XIX. Sem a quebra
dos grilhões com o ancién regime,
onde o individualismo (antropocentrismo) rompeu com as idéias escolásticas,
dificilmente a democracia moderna teria surgido.
O primeiro país democrático na
pós-modernidade, ou seja, na História Contemporânea, foram os Estados Unidos.
Alexis de Tocqueville, em sua brilhante obra Democracia na América, referencia o forte associativismo civil da sociedade
norte-americana e como este associativismo está ligado ao individualismo
burguês de sua essência.
A carta declaratória de
independência das treze colônias está embasada nas doutrinas liberais clássicas
que tem no individualismo burguês sua força máxima. Ali todos nascem livres
para a busca de sua própria felicidade.
Ora, se a Constituição brasileira
traz em sua conjuntura o componente liberal, todo o cidadão brasileiro tem
garantido o direito a não participação em qualquer coisa que seja. Ficar
preocupado com sua própria felicidade é um direito e não uma alienação.
Portanto, defender idéias é direito de qualquer um, mas ficar inerte quanto às idéias
dos outros também o é!
O autoritarismo daquele professor assusta quase tanto quanto a gratuidade das suas afirmações. Por exemplo: afirmar que a longo prazo os alunos grevistas serão beneficiados e não apresentar um só dado de que isso é verdade. Onde estão os dados que demonstram isso? Não comparou a empregabilidade e o desempenho profissional dos alunos formados em instituições que passaram muito tempo em greve com instituições onde os alunos puderam estudar sem interrupções. Basear políticas públicas, no caso, universitárias, em chutes é irresponsável.
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