Cidade questiona fama de "capital da morte", mas tem violência como mote eleitoral
Mapa aponta taxa de homicídios 4 vezes maior
do que a média nacional
Carlos Madeiro, Fabrício Venâncio, Leandro Moraes e Noelle
Marques
Considerada a cidade com
mais homicídios do país, segundo o estudo Mapa da Violência 2012, o município
convive com a incômoda fama de "capital da morte". A população cobra
mais investimentos para tentar impedir a ação de criminosos. Enquanto isso,
candidatos fazem promessas que têm objetivo diminuir a taxa de
assassinatos.
No
Mapa da Violência 2012, o município de Simões Filho, na região metropolitana de
Salvador, aparece com a maior taxa de homicídios do país. Com 118 mil
habitantes, a cidade registrou, em 2010, índice de 146 assassinatos por cada
100 mil, quase seis vezes mais que a média nacional (de 26,2 por 100 mil) e
mais que o dobro do país mais violento do mundo (El Salvador, que tem índice de
71 mortes para cada 100 mil moradores).
A gravidade do problema, claro, garante a questão no centro do debate
eleitoral. Apesar de a Segurança Pública ser atribuição dos governos estadual e
federal, o assunto tornou-se tema de promessas de campanha dos três candidatos
à prefeitura. Hoje, a violência é uma das principais queixas da população.
Enquanto isso, autoridades reclamam da fama “injusta” de “capital da morte”,
resultada da divulgação da pesquisa.
Entre as propostas, algumas chamam a atenção pela dificuldade
na concretização. O candidato Jorge Sales (PC do B) tem no plano um “eixo de
governo” em que trata exclusivamente de segurança e direitos humanos. Ele
promete atuar na prevenção, com sistema de vigilância por câmeras (já existente
na cidade), regulamentação do funcionamento dos bares e até a criação de
“policiamento escolar”.
Candidato à reeleição, Eduardo Alencar (PSD) também não
deixou o assunto de lado e promete, em seu plano de governo, “segurança pública
inteligente.” “Fortaleceremos ainda mais a segurança municipal inteligente, com
muito ativismo, novas tecnologias, com cooperação total entre os governos do
Estado e Federal”, diz, sem citar detalhes.
O prefeito também promete, de forma genérica, “promover ações
setoriais com influência direta e indireta na busca da segurança e prevenção à
violência.”
Já o candidato Dinha (PMDB) propõe a criação da Diretoria do
Controle do Patrimônio Público e Prevenção da Violência, que seria responsável
pela coordenação da política municipal de prevenção da violência.
Dinha também que criar a Lei do Conselho Municipal de
Segurança Pública, que integraria os órgãos municipais, sociedade civil e
polícias estaduais para “estabelecer diretrizes para ação preventiva da
violência na cidade.”
Capital da desova?
Para especialistas, Simões Filho enfrenta um problema
conhecido como "interiorização da violência", que assolou cidades de
médio porte nos últimos anos. Mas as autoridades fazem coro para questionar a
fama de "capital da morte". Segundo toda a cúpula de segurança, parte
significativa dos assassinatos catalogados não são de moradores da cidade, mas
sim, “desovas” de corpos, isto é, corpos de vítimas de homicídio que são
despejados na região por criminosos, especialmente de crimes ocorridos em
Salvador.
Dois fatores são apontados como cruciais para o número de
desovas: as áreas de matagal e sem iluminação do Centro Industrial de Aratu e
os inúmeros acessos do município as cinco cidades com quem tem limite, entre
elas Salvador.
A preocupação da cidade com a má fama é tamanha que várias ações
foram tomadas para mapear e conter as desovas. “Por conta desse mapa perdemos
14 indústrias que iriam se instalar em Simões Filho e não vieram mais”, conta
uma funcionária da prefeitura.
Para tentar reverter a situação, a prefeitura resolveu
investir na catalogação das vítimas que seriam, de fato, moradores da cidade
para “provar” que a violência no município está dentro da média.
“Nós implantamos um observatório de segurança pública, onde
estamos fazendo um georeferenciamento para fecharmos estatísticas de quantos
dos corpos encontrados em Simões Filho são de pessoas daqui. O que sabemos hoje
é que muitas das vítimas são encontradas aqui, mas não são enterradas na
cidade. Ou seja, o crime entra na nossa conta, sem ser uma morte ocorrida em
Simões Filho. Em breve teremos dados exatos”, conta Carla Cristina,
coordenadora do Gabinete de Gestão Integrada de Segurança Pública.
Segundo dados da Polícia Civil, até julho foram registrados
90 homicídios na cidade, sendo que 44 deles foram classificados como desovas.
“E esse número já caiu 40% nos últimos meses por conta de operações que
começamos a realizar, de forma constante, com monitoramento das áreas de
desovas, inclusive por helicóptero”, diz o major Jorge Paraíso, chefe da 22ª
Companhia Independente da Polícia Militar.
Monitoramento e iluminação
Desde março de 2011, a cidade é monitorada por 24 câmeras,
que mandam imagens para um central, que conta com policiais e guardas municipais
24 horas por dia. “Essas imagens são armazenadas de 30 a 45 dias, com
visualização das entradas da cidade, áreas de vulnerabilidade e bairros com
maiores índices de homicídios. Temos um projeto para mais 24 câmeras, que devem
ser instaladas em breve”, diz Carla Cristina.
Sobre iluminação pública, Cristina alega que existe um
projeto para orçado em R$ 1,5 milhão, em parceria com o governo do Estado, para
iluminar toda a área do Centro Industrial de Aratu, mas que ainda está em fase
de implantação. “Vamos ter também bases comunitárias, que vão ajudar a reduzir
ainda mais esse índice”, contou.
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