GOVERNANTES DESVIRTUOSOS: RECIFE, JABOATÃO E INTERIOR PERNAMBUCANO, QUEM ESTÁ NO COMANDO?
Republico artigo que saiu no Jornal do Commercio no ano passado, previsões...
Virtude ou Fortuna: qual a mais importante?
Por José Maria Nóbrega, hoje, professor da UFCG
Virtude ou Fortuna: qual a mais importante?
Por José Maria Nóbrega, hoje, professor da UFCG
Às vésperas das eleições um fato me chamou atenção: o constrangimento dos candidatos majoritários em serem ricos. Ou seja, ser rico é sinônimo de “explorador”, de quem tem vida boa e por isso não sabe o que um pobre necessita e sente. Coisas do tipo. Como se tendo atestado de pobreza o condicionasse a ser um bom gestor público! Que cultura é essa que enxerga na riqueza um caráter de desqualificação política? Isto é típico de países com cultura ibérica e católica que enxergam negativamente o acúmulo econômico adquirido pelo trabalho e pela atividade financeira. Já a cultura de países como os Estados Unidos e a Inglaterra a riqueza individual – exemplificada no self-made man rockefelleriano – é vista de forma positiva e até elogiável.
Sérgio Xavier, candidato a governador pelo Partido Verde, divulgou seu patrimônio ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) sendo o maior dentre os candidatos à majoritária. Logo vieram rumores a respeito de sua riqueza que surpreendeu até seus colegas de partido. Não sei qual a origem do patrimônio do candidato, e acredito ser legal toda a sua declaração, mas qual seria o problema de termos um governador rico gerindo o estado de Pernambuco? O foco não deveria ser no seu patrimônio, mas em sua capacidade de governar sem levar em consideração para quem se estar governando.
Na verdade, quando uma sociedade julga aqueles mais ricos de forma negativa pode existir um impedimento para o desenvolvimento dessa mesma sociedade. Ser rico ou ser pobre não é questão apenas de fortuna, mas, sobretudo, de se ter virtudes. Existem homens ricos que não tem virtude – aqui não defino a virtude como uma qualidade cristã, religiosa ou do ato benevolente característico de pessoas como Madre Tereza de Caucutá, mas característica da qualidade de agir conforme as circunstâncias do momento em prol do bom andamento e da boa administração da coisa pública ou privada – e mostram isso em atos desastrados ou catastróficos.
Veja o caso de jogadores de futebol que alcançam o estrelato da noite para o dia, onde a Fortuna (a deusa romana) bate às suas portas, mas os pegam desprevenidos por não terem virtude suficiente para controlar as vaidades e vicissitudes que a Fortuna traz consigo. Para mantê-la ao seu lado de forma contínua, há necessidade de um exercício virtuoso que requer capacidade intelectual e emocional de quem foi agraciado com a visita dessa deusa milenar.
O caso do goleiro Bruno Fernandes do Flamengo – maior clube de futebol do Brasil – retrata bem esta falta de virtuosidade de um sujeito simples, de origem pobre e com sérios problemas psicológicos, que teve a visita da deusa em sua vida, mas que não conseguiu minimamente controlar os caprichos da Fortuna. Não existe sucesso apenas com a Fortuna, valendo também para a virtude. Do outro lado, apenas a qualidade virtuosa sem a visita da deusa romana não consolida uma vida de sucesso.
Outro caso importante que vem tendo destaque nacional é a catástrofe previsível das enchentes nas cidades da Mata Sul pernambucana. O Rio Una, depósito de lixo e dejetos das comunidades ribeirinhas das diversas cidades destruídas, foi colocado como o principal responsável pela enchente. Contudo, faz décadas que os governantes desvirtuosos dessas cidades – todos eles preocupados apenas com seus dividendos eleitorais e com os empregos de seus apaniguados – não focaram suas energias para sanar o problema dos entulhos, esgotos clandestinos e construções irregulares às margens do rio. Daí, o Rio Una devolveu tudo o que foi jogado irresponsavelmente em suas águas para dentro das cidades que foram praticamente destruídas. Então, quem foi o principal responsável pela catástrofe: o Una ou os gestores públicos desvirtuosos?
Até quando vamos continuar elegendo políticos/gestores irresponsáveis (sem nenhuma virtude administrativa, diga-se de passagem) para administrarem nossas cidades, sobretudo às do interior?
Continuando a eleger tais políticos desvirtuosos, futuramente teremos mais cheias, mais mortes, mais gente desabrigada, i.e., mais catástrofes. Estaremos dando a eles a fortuna de mãos beijadas através do voto!
Com estes exemplos, destaco que para ser um bom político o atestado de pobreza não influencia em absolutamente nada! Podemos ter gestores pobres, mas irresponsáveis com a coisa pública. Ter gestores ricos, mas responsáveis com a coisa pública. Ter gestores pobres, mas responsáveis com a coisa pública. E ter gestores ricos, mas irresponsáveis com a coisa pública. Ou seja, ser rico ou ser pobre não é variável determinante, nem mesmo interveniente, para ser um bom governante.
Outro ponto: que a visita da Fortuna, ou da “sorte grande”, não é fator determinante para o sucesso individual. Há necessidade de se ter virtude, capacidade para controlar a Fortuna. Pessoas sem virtude dificilmente controlam a deusa romana, como vimos no caso do jogador de futebol supracitado.
Finalmente: bons governos salvam vidas! Se continuarmos a eleger governantes que não são responsivos com a coisa pública, mais tragédias como as ocorridas no Agreste pernambucano, bem como o crescimento da violência, como a queda de morros e soterramentos etc., continuarão no nosso cotidiano a preencher as colunas das matérias jornalísticas.
Não existe sucesso público e/ou privado sem o equilíbrio entre a virtude e a fortuna!
O Sr. pecou em ao exemplificar jogador como mal exemplo, não que o citado não sirva para este fim, porém, temos tantos mal exemplos políticos que serveriam muito mais. Omissão é um ato pior que a ignorância.
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