Quando o jornalista foi chamado para depor, se ele quisesse, nem teria ido.

ENTREVISTA » WILSON DAMÁZIO


“Ninguém colocou a cabeça dele num balde”

Publicado em 04.03.2011, Jornal do Commercio

Horas antes do afastamento dos dois corregedores, o secretário de Defesa Social, Wilson Damázio, em entrevista ao repórter Carlos Eduardo Santos, defendeu a forma como a sindicância estava sendo conduzida.

JC – Qual a sua avaliação sobre a forma como a corregedoria está conduzindo a sindicância em relação às denúncias sobre o Corpo de Bombeiros?

WILSON DAMÁZIO – As pessoas têm que entender como funciona a parte funcional de um processo administrativo, de um inquérito policial e de um processo criminal. Há formalidades. O jornalista foi ouvido porque foi autor da matéria. A gente faz as perguntas, ele responde se quiser. A gente apresenta a fotografia para saber se foi esse ou aquele. São várias apurações dentro dessa primeira sindicância. Essa sindicância é investigativa. Dela podem derivar vários outros procedimentos. Porque o militar não é uma pessoa comum, um do povo qualquer. Você do povo não tem responsabilidade nenhuma em apresentar denúncia, pode ir ao jornal e denunciar. Mas o militar precisa apresentar à autoridade competente. Principalmente quando é algo que está dentro da sua organização militar. Ele tem um código de conduta, de ética e disciplina, tem o código penal militar. Dados de segurança pública muitas vezes são sensíveis, sigilosos. Não é sigiloso para esconder. É sigiloso para apresentar a quem deve ser apresentado: o comandante da corporação ou o secretário de Defesa Social. Se a pessoa tivesse trazido a denúncia para mim e eu não tivesse tomado providência, tudo bem que procurasse a imprensa, mas primeiro tem que exaurir os canais competentes dentro da escala hierárquica do governo.

JC – Mas não é estranho a corregedoria querer saber a fonte do jornalista, quando isso é preservado pela Constituição?

DAMÁZIO – Meu amigo, não se está dizendo que é proibido reservar. Ele tem o direito de preservar. Mas eu vou perguntar. Ora, se ele me disser quem é a fonte, vai adiantar minha investigação. Eu vou no cara que sabe tudo. É muito bom você ir no jornal, escrever isso e aquilo. E agora, cadê a prova? onde está o negócio? Porque um barco quebrado, uma viatura que está para ser leiloada, isso até nos Estados Unidos existe. Qualquer lugar tem isso. Isso não quer dizer que há desmando. Mas vocês precisam ter muito cuidado para não servirem de boi de piranha. Ou seja, alguém quer conseguir galgar um cargo e usa você para... sabe? Lança a denúncia e depois não prova. A sindicância que foi instaurada, se você ver o ofício que mandei, é para apurar tudo. Não tenho nada contra o jornalista. Ele pode fazer o que quiser daquilo que ele tomou conhecimento. Agora, tenho o dever de perguntar. Ninguém colocou a cabeça dele num balde de água para ele dizer quem foi. Quando o jornalista foi chamado para depor, se ele quisesse, nem teria ido. Foi convidado a depor.

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