VIOLÊNCIA NO NORDESTE
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Escalada da violência no Nordeste
Publicado em 25.02.2011, Jornal do Commercio
Escalada da violência no Nordeste
Publicado em 25.02.2011, Jornal do Commercio
Os Estados da região obtiveram as maiores altas nas taxas de mortes violentas entre 1998 e 2008. Índices se elevam principalmente entre jovens e negros
BRASÍLIA – A região do Brasil que mais sofre com a pobreza agora também submerge na violência. Em uma década (1998-2008), o Nordeste assistiu a uma escalada de mortes violentas. Os assassinatos aumentaram 65%, enquanto os suicídios subiram 80% e os acidentes de trânsito, 37%. Na população jovem, os índices são ainda piores: um crescimento de 49% nos acidentes, 94% nos homicídios e 92% nos suicídios. Alagoas é símbolo da escalada de violência.
Essa radiografia está no Mapa da Violência 2011 – Os Jovens do Brasil, estudo preparado pelo pesquisador Julio Jacobo Waiselfisz e apresentado ontem pelo Instituto Sangari e pelo Ministério da Justiça. Em síntese, entre 1998 e 2008 nenhuma outra região teve um aumento tão grande de mortes por causas externas. Alagoas tem a maior taxa de homicídios (60,3), seguida pelo Espírito Santo (56,4) e Pernambuco (50,7). Os três Estados também aparecem, pelo estudo, no topo do ranking de homicídios de jovens, com taxas de 125 por 100 mil, 120 e 106, respectivamente. Diante dos números alarmantes, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse que pretende retomar a campanha do desarmamento.
Estados como Alagoas e Bahia, que figuravam na parte de baixo do ranking da violência, pularam para as primeiras posições. Outros, como o Maranhão, quase quadruplicaram suas taxas de homicídio. Saíram de taxas quase europeias, de cinco assassinatos por 100 mil habitantes, para 20 – um número ainda baixo, mas que mostra um crescimento assustador.
Alagoas, o Estado com o menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do País (0,677), tem hoje mais problemas para cuidar além da miséria crônica. Em dez anos, a violência cresceu 2,7 vezes no Estado. Entre os jovens, tem sintomas de catástrofe: o número de homicídios saltou 343% e a taxa quadruplicou. Entre jovens e negros pode ser considerada quase um extermínio: alcançou 155,6 por 100 mil.
A explicação para isso pode estar exatamente nos males que vêm com as boas notícias. Nos últimos anos, novos polos econômicos surgiram pelo Nordeste. “Há polos que emergem com forte peso econômico e praticamente não têm a presença do Estado, especialmente nas questões de segurança pública”, afirma Waiselfisz.
São cidades do interior em que mais recursos começam a circular. Não apenas por empresas, mas pela chegada de programas sociais como o Bolsa Família. E começam a ter assaltos a banco, roubos de carros, tráfico de drogas, acidentes de moto. Locais onde raramente há uma delegacia e a fiscalização de normas de trânsito é praticamente inexistente. O fenômeno, analisa o pesquisador, pode ser chamado de “desconcentração” da violência. “As capitais e regiões metropolitanas começaram a receber mais investimentos e a houve uma consequente migração da violência”, diz.
O atual quadro brasileiro mostra que em nenhum Estado a taxa de homicídios fica abaixo de 10 por 100 mil habitantes, o máximo considerado aceitável. Em 1998, oito ostentavam números até 10 mortes por 100 mil habitantes. Eram Estados considerados tranquilos. Hoje, isso não existe mais. Os homicídios cresceram, nesses oito Estados, 170% na década. A menor taxa hoje é no Piauí, que apresenta um índice de 12,4 – mais do que o dobro de dez anos atrás. O Maranhão, que era o 27º no ranking dos Estados, quadruplicou o índice e está em 21º. A Bahia pulou do 22º para oitavo lugar, com uma taxa hoje mais de três vezes maior do que em 1998. Em Salvador a taxa de homicídios cresceu 290% nos dez anos.
A pesquisa mostra que, em 2008, 39,7% dos óbitos na população de 15 a 24 anos foram provocados por assassinatos. Nas demais faixas etárias, este percentual corresponde a 1,8%. Em Alagoas, 60,9% dos óbitos de jovens foram causados por homicídios. No Rio, foram 42,2%. “O dado mais preocupante é o da juventude”, diz o vice-presidente do Instituto Sangari, o sociólogo Jorge Werthein.
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