A POLÍCIA QUE ENVERGONHA
Governador afasta oito PMs acusados de abuso
Publicado em 16.02.2011, Jornal do Commercio
Eduardo Campos determinou punição para militares que teriam torturado jovens no Centro, um dia após o secretário Wilson Damázio ter garantido que eles permaneceriam nas ruas
João Valadares
Após duas semanas de silêncio diante das recorrentes denúncias de abuso policial, inclusive com comunicação internacional à Organização das Nações Unidas (ONU), o governador Eduardo Campos determinou, na manhã de ontem, o afastamento dos oito policiais militares investigados por espancamento, tortura com choque e tentativa de obrigar três flanelinhas, na quinta-feira, a fazer sexo oral neles. Também ordenou que os denunciantes e os familiares sejam incluídos em programas de proteção a testemunha. Com uma fala dura, na base do doa em quem doer, Eduardo Campos deixou claro que, de agora em diante, a postura será essa. Em 14 dias, depois dos relatos de violação dos direitos humanos publicados pelo Jornal do Commercio, 22 policiais militares foram afastados do serviço de rua.
“Todos esses fatos quando chegarem ao meu conhecimento, a minha determinação é essa. Para a corregedoria apurar duramente e proteger aquele cidadão que está fazendo a denúncia e até para estimular que outras denúncias sejam feitas.” A ordem do governador soou como uma desautorização e deixou o secretário de Defesa Social (SDS), Wilson Damázio, em posição desconfortável. Na segunda-feira à noite, ao ser questionado pelo JC se os policiais seriam afastados, assim como foi feito em relação à denúncia do beijo forçado na Delegacia de Roubos e Furtos de Veículos, Damázio assegurou que todos permaneceriam nas ruas. “Não podemos sacrificar os nossos policiais sem provas. Nesse caso, há apenas uma denúncia.”
Em nota oficial, encaminhada na noite de ontem, a Secretaria de Defesa Social comunicou que os policiais foram afastados “em razão de fatos novos surgidos, especialmente em relação à denúncia, ainda em apuração, de coação no curso do processo”. Na segunda-feira à noite, em caráter de urgência, o governador convocou Wilson Damázio e o comandante da Polícia Militar de Pernambuco, Antônio Tavares Lira, e anunciou a decisão.
“Tudo isso foi objeto de encontro ontem (anteontem), tarde da noite, com Damázio e Lira e hoje (ontem) pela manhã também”, informou. Eduardo Campos disse que é preciso ter cuidado para não se fazer um prejulgamento. “Precisamos ser enérgicos, como fomos em todos os episódios, e continuaremos a ser. Não podemos, nem de longe, fazer prejulgamento. Até porque vocês sabem que muitas denúncias dessas, e é a maioria, se comprovam num processo de apuração.”
Ele salientou a importância do processo legal. “Nós precisamos que o devido processo legal siga. A imprensa ajuda a gente a valorizar esse respeito à vida. Entre escrever uma matéria e fazer um inquérito existe uma diferença. Quem vai responder a um inquérito são os advogados, que muitas vezes se valem de falhas no inquérito para fazer com que um marginal, que a gente tira do serviço público, volte por uma decisão judicial porque houve falha no inquérito.”
SILÊNCIO
Em público, ao falar durante formatura de 222 novos oficiais administrativos da PM e do Corpo de Bombeiros, no Teatro Guararapes do Centro de Convenções, em Olinda, o governador silenciou sobre os abusos. Só falou quando foi provocado e justificou a demora em se pronunciar oficialmente pelo caso. “Não me pronunciei porque não tive oportunidade.” Foi informado de que o JC entrou em contato várias vezes com a assessoria de imprensa durante duas semanas. “Eu estava trabalhando.” No mesmo evento, falando em público, Wilson Damázio fez uma crítica sutil à imprensa. “A impressão que fica (com a divulgação de fatos negativos) é que a nossa tropa está fora de controle. Hoje, tive o desprazer de afastar oito PMs.”
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