Municípios sem reação ao avanço da droga

Publicado em 14.12.2010 - Jornal do Commercio

BRASÍLIA – Os dados da primeira grande pesquisa nacional sobre o crack revelam que, das cidades pesquisadas, apenas 8,43% executam programas institucionalizados de combate à droga. Entre os depoimentos recolhidos com os secretários municipais de Saúde, há relatos de aumento de consumo do crack entre a população jovem e houve até quem pedisse “socorro”.

“O Brasil não tem nenhuma política de enfrentamento ao crack, seja por parte de municípios, Estado ou União. É preciso planejamento estratégico, integração entre as três esferas governamentais”, disse o presidente da CNM, Paulo Ziulkoski. “Estamos em um cenário extremamente preocupante.”

Das 333 cidades que contam com programas municipais de combate ao crack, entre as 3.950 pesquisadas, apenas 57 se preocuparam em fazer uma radiografia do uso da droga em seu território. E em apenas 61 houve ampliação da Rede Assistencial (Casas de Passagem, Comunidades Terapêuticas, instalação de Caps etc.), por conta da epidemia da droga.

Em algumas cidades, a maioria das detenções já ocorre por causa de roubos para a compra de entorpecentes. No interior, cresce o número, por exemplo, de jovens que consomem a droga e estão na cultura de cana.

O cenário desolador é reforçado por outros números: menos da metade dos municípios do País (48,15%) estava realizando algum tipo de campanha contra o crack em novembro, incluindo atendimento a familiares e amigos de usuários, prevenção do uso de drogas e realização de pesquisas sobre o assunto. E só 14,78% das cidades afirmaram ter Centros de Atenção Psicossocial (Caps), que prestam atendimento a usuários de drogas, e 24% auxiliam entidades, como ONGs, na ressocialização dessas pessoas.

A CNM defende um reforço no policiamento dos municípios na região de fronteira – com a utilização das Forças Armadas – para inibir a entrada de substâncias ilegais em território brasileiro. Especialistas ouvidos pela entidade estimam que, nos próximos seis anos, 300 mil pessoas devem morrer no País em virtude do consumo de crack.

“No Brasil, fizemos um grande esforço para a redução da mortalidade infantil, mas não há nenhuma política de prevenção à mortalidade juvenil. Estamos salvando nossas crianças, mas deixando elas morrerem quando chegam à juventude”, afirmou Ziulkoski.

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