A maior parte das armas nas mãos dos criminosos é de baixo calibre e foi fabricada no Brasil
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Quase 50% das armas no Brasil estão ilegais
Publicado em 21.12.2010, Jornal do Commercio
Estudo divulgado ontem pelo Ministério da Justiça revela que existem cerca de 16 milhões de armas no País, das quais 47,6% estão com bandidos ou civis sem porte. A maioria delas é de produção nacional
BRASÍLIA – Existem hoje cerca de 16 milhões de armas em circulação no Brasil, das quais 47,6% estão na ilegalidade, o que corresponde a 7,6 milhões de unidades em poder de civis sem porte e de bandidos. Com 34,3 mil homicídios ao ano, o País é campeão mundial em números absolutos de mortes por armas de fogo.
Os dados fazem parte do Mapa do Tráfico Ilícito de Armas no Brasil, divulgado ontem pelo Ministério da Justiça, como ponto de partida para a retomada da campanha nacional pelo desarmamento, a ser mantida no futuro governo. “A posse de armas não socorre o cidadão, só gera mais violência”, afirmou o ministro Luiz Paulo Barreto.
O estudo, produzido pela ONG Viva Rio em parceria com a Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), servirá de subsídio para focar a intervenção do poder público nos Estados onde há maior descontrole de armas, considerado o fator que mais contribui para a violência urbana.
A pior situação, conforme ranking montado pela ONG, é a dos Estados de Rondônia, Sergipe e Amapá. Foram levados em conta o cuidado no depósito das armas, o gerenciamento no seu controle e a produção de informações confiáveis sobre quem tem, onde estão e como são usadas as armas.
Conforme o estudo, de cada dez armas apreendidas no Brasil, oito são fabricadas no País e apenas duas vêm de fora. “Isso desmente a falsa impressão de que a maioria das armas ilegais é de fabricação estrangeira”, explicou Antônio Rangel, diretor do Viva Rio. Entre as armas de origem estrangeira, 59,2% vêm dos Estados Unidos, conforme cadastro do Sistema Nacional de Armas (Sinarm), controlado pelo Exército e Polícia Federal (PF).
Ainda de acordo com o estudo, 80% das armas apreendidas no País são de baixo calibre, como revólveres, pistolas e espingardas de caça. “Na realidade, a arma brasileira – pistolas e revólveres – é a arma dos bandidos”, explicou Rangel, para quem é mito achar que fuzis russos e israelenses são os grandes armamentos do crime. “Isso pode ocorrer apenas em territórios do tráfico no Rio, mas é exceção.”
Segundo Rangel, foram identificados 140 pontos de entrada de armas no Brasil, por fronteiras secas. “Mas o número de armas que entra pelas fronteiras secas é irrisório se comparado com o número de armas fabricadas no País, compradas legalmente, que vão para a ilegalidade”, afirmou.
Pelos dados do Sinarm, das 16 milhões de armas circulando no Brasil até setembro, 14 milhões (87%) estão com a sociedade civil. Sob a responsabilidade do Estado, figuram 2 milhões de armamentos, 13% do total.
Rangel destacou que, para melhorar esse controle, é necessário que o Estado implemente políticas mais rigorosas de fiscalização do armamento fabricado no Brasil e, também, entre os comerciantes desses produtos.
Das 288 mil armas apreendidas nos últimos dez anos, constatou-se que 30% foram adquiridas legalmente. “Sem controle do mercado legal, o canal está aberto para que as armas mergulhem na clandestinidade e no crime”, destaca o estudo.
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