Estudo traça mapa da violência em todo o país

Pesquisa revela atuação setorizada de quadrilhas, com mais contrabando de armas no Sul e prostituição no Nordeste


Marcelo Remígio

O desafio da segurança pública no governo Dilma Rousseff não passa por uma única frente de combate ao crime. A atuação setorizada das quadrilhas muda o perfil da criminalidade de estado para estado, requerendo um plano integrado de combate. Estudo coordenado por Robson Sávio Reis Souza, do Centro de Criminalidade e Segurança Pública da Universidade Federal de Minas Gerais, comprova a delimitação do crime e aponta para a necessidade de investimentos no setor de inteligência como ponto de partida para políticas de segurança pública.

De acordo com o estudo, o tráfico de drogas marca o perfil do crime no Sudeste, com disputa de território no Rio de Janeiro. No Sul, quadrilhas de prostituição internacional e de contrabandistas de armas se fortaleceram no Paraná, enquanto nos estados do Norte, o problema é a biopirataria. No Centro-Oeste, grupos especializados em roubos de carros abastecem os países vizinhos. A região também é porta de entrada para drogas e armas. Já no Nordeste, há muitos assaltos a bancos e prostituição infantil.

- Não basta política de repressão. É preciso fortalecer o sistema de inteligência para identificar o tipo de atuação dos grupos e traçar metas. É preciso uma política nacional de segurança que privilegie troca de informações entre as polícias - afirma o pesquisador.

A violenta disputa de território por traficantes é apontada pelo especialista como uma característica do crime no Rio. A briga pelo mercado é travada entre três facções criminosas, que expandiram suas atividades da capital para a Região Metropolitana. Souza destaca a ocupação do Complexo do Alemão e a implantação das Unidades de Polícia Pacificadora como pontos a favor no combate ao crime:

- Experiência como as UPPs funcionam no Rio, mas podem não dar certo no Nordeste.

Segundo o estudioso, no entanto, o desafio do Rio é a manutenção das áreas pacificadas "sem a contaminação" da polícia e a repressão às milícias, sob o risco de milicianos ocuparem áreas deixadas pelo tráfico. Ele também não descarta a migração de traficantes para o interior e para outros estados.

Em São Paulo, Souza destaca a concentração de roubos e furtos no interior, onde o poder aquisitivo é alto. Quadrilhas de assalto a bancos agem muito em cidades menores. Na capital e em sua Região Metropolitana, o tráfico de drogas também é forte, mas dominado por uma única facção criminosa, inibindo uma disputa territorial violenta.

Já no Espírito Santo, a criminalidade concentra-se na Grande Vitória, proporcionalmente a mais violenta das regiões metropolitanas do país. A atuação é de gangues que controlam pontos de venda de drogas. No estado, a violência urbana é marcada por furtos e roubos. Minas Gerais enfrenta situação semelhante, com gangues controlando a venda de drogas. Em Belo Horizonte, no início dos anos 2000, os homicídios triplicaram, a maioria envolvendo menores e drogas.

Para Souza, a lógica do crime é a lei de mercado: apostar na atividade em que o retorno é maior e a repressão, menor.

- Há grandes assaltos em pequenas cidades do Nordeste, onde o efetivo da polícia é de três, quatro homens. As quadrilhas sabem disso. Esse planejamento precisa ser evitado - diz.

Pernambuco, Bahia, Rio Grande do Norte, Alagoas e Ceará também abrigam quadrilhas de prostituição infantil em áreas turísticas.

Biopirataria no Norte e roubo de carro no Centro-Oeste

De acordo com o estudo, a Região Norte enfrenta a biopirataria e o contrabando de armas e drogas. Para o especialista, a biopirataria é um crime silencioso, motivado pela indústria estrangeira farmacêutica e de cosméticos. No Amazonas, ele destaca a atuação de grupos paramilitares colombianos nas áreas de fronteiras. Lá, em Roraima e em Rondônia agem contrabandistas de armas e drogas.

No Centro-Oeste, as quadrilhas apostam no roubo de carros. A região é porta de saída para países vizinhos e com mercado lucrativo para revenda de veículos. Pelas fronteiras ainda passam contrabandos de armas e drogas, que abastecem o Sudeste. Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul enfrentam a atuação de contrabandistas de armas vindas de Paraguai, Uruguai e Argentina. As fronteiras facilitam o chamado comércio humano, que abastece redes de prostituição na Europa e em países americanos.

Fonte: O Globo

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