O primeiro debate do segundo turno na Rede Bandeirantes
Por José Maria Nóbrega – Doutor em Ciência Política pela UFPE
O primeiro debate entre os presidenciáveis na TV Bandeirantes foi interessante. O nível poderia ter sido melhor, pois os temas da discussão foram praticamente os mesmos do primeiro turno. Temas relevantes para o setor produtivo do país, como a reforma tributária e a reforma política foram alijadas do debate.
José Serra e Dilma Rousseff, no entanto, foram protagonistas do primeiro debate mais interessante de todo o processo eleitoral 2010. Contudo, Dilma foi mais agressiva em acusar o seu adversário, enquanto Serra apresentou maior controle emocional e melhor desempenho na oratória de suas respostas e questionamentos.
Os assuntos abordados
O debate começou em clima nervoso com acusações por parte da candidata do PT sobre calúnias que vem sofrendo por parte do seu rival. Dilma afirmou que há uma campanha raivosa contra sua candidatura devido a várias acusações expostas na imprensa sobre as relações ilícitas no âmbito de várias instituições, dentre elas a Casa Civil (caso Erenice Guerra), todas apontadas pela candidata como caluniosas.
Serra se mostrou seguro e, com um riso irônico, respondeu a Dilma afirmando que os casos dos quais ela e seu partido vem sendo acusados são transmitidos pela mídia e que ele nada tem a ver com isso. Que a livre imprensa vem mostrando o que, para ele, é a “privatização” das instituições do estado pelos companheiros do PT (leia-se, loteamento político).
Outro assunto abordado foi o polêmico caso do aborto. Este foi rechaçado pelos dois candidatos que, a meu ver, incorrem no erro de abordar o assunto com discussões superficiais. Serra acusou sua rival de ter “duas caras” a respeito do assunto. Dilma reforçou o que ela vem dizendo ultimamente: é contra o aborto veementemente.
A segurança pública apareceu como um assunto relevante no debate. Serra avaliou o desempenho exitoso do estado de São Paulo, afirmando que as políticas públicas na área foram responsáveis pelo decréscimo nas taxas de homicídios em mais de 70% num período de dez anos. Perguntou a sua adversária por que esse tema não vem sendo tratado com o devido cuidado pelo atual governo. Dilma afirmou que o governo vem se empenhando nessa temática ao exemplificar a criação da Força Nacional de Segurança e o Pronasci (Programa Nacional de Segurança com Cidadania) do governo federal, como projetos exitosos, mas sem demonstrar concretamente o êxito.
Serra criticou o programa de governo de sua adversária, apontando a falta de conhecimento sobre as necessidades regionais na lacuna da segurança – citou o caso alarmante da Bahia, que há mais de dez anos vem tendo crescimento avassalador de suas taxas de criminalidade violenta – daí detalhou um pouco o programa de seu partido para esta pasta: criação do Ministério da Segurança Pública, criação de uma Guarda Nacional – criticando a Força Nacional como uma força inexistente, pois necessita das polícias civis e militares dos estados para formarem o seu corpo -, com a melhoria da formação policial. Dilma levantou a questão do programa da bolsa de R$ 400,00 dadas aos policiais da FN para continuarem sua formação como único ponto relevante da política de segurança nacional, batendo nos baixos salários pagos aos delegados em São Paulo.
Em seguida Serra falou do problema das Santas Casas e de suas dívidas, em torno de 6 bilhões de reais, que não foi levado em consideração pelo atual governo. A preocupação do candidato com a saúde é uma de suas principais bandeiras. Como ministro da saúde do governo FHC, Serra destacou seus programas exitosos, como o dos genéricos, e que o governo do PT foi contra naquele período e que hoje elogia.
Dilma, respondeu que o governo federal vai se dedicar a resolver o problema das Santas Casas. Contudo, não foi muito clara neste sentido. Foi evasiva quando falou dos genéricos.
As privatizações – tema sempre recorrente e, na minha visão, totalmente ultrapassado -, foi tratado pela candidata Dilma, ressaltando os processos de privatizações ocorridos no governo FHC. Serra afirmou que esta política não foi exclusiva do governo anterior e que o governo do PT também recorreu a tal prática, além de ter elogiado programas de modernização como o que ocorreu com o caso das telecomunicações/telefonia. Serra afirmou que o PT foi contra a privatização desse setor na época, o que incorreria num atraso caso os petistas tivessem conseguido impedir o processo. Afirmou que, pelo PT, estaríamos ainda no tempo dos “orelhões”.
Serra afirmou que irá reestatizar os Correios, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica e fortalecerá ainda mais a Petrobrás (tema que foi bastante discutido e rebatido entre os candidatos).
A questão da infra-estrutura aeroportuária foi outro tema debatido entre os candidatos. Serra ressaltou o fraco desempenho do governo nessa área, destacando a superlotação dos aeroportos e do péssimo estado dos portos brasileiros. Dilma rebateu afirmando que os aeroportos estariam lotados resultado do crescimento da classe média e da diminuição da desigualdade e pobreza, conquista do governo Lula. Serra afirmou que com uma infra-estrutura da forma como se encontra fica muito difícil haver desenvolvimento econômico, sobretudo na geração de emprego e do desenvolvimento do turismo.
Os programas sociais vieram à tona com uma pergunta da Dilma, onde ela questionou o Serra quanto a manutenção do Bolsa Família, do Minha Casa Minha Vida, e do Prouni. Dilma afirmou que o Serra “falou mal” do Minha Casa Minha Vida. Serra respondeu que fortalecerá os programas sociais, afirmou, também, que não tinha falado mal do Minha Casa Minha Vida, mas que, segundo dados do candidato, o governo federal vinha mentindo quanto a quantidade de casas que tinham sido construídas e/ou vendidas segundo o plano. O governo afirmava que tinha sido mais de um milhão de casas, e o Serra afirmou que foram cento e cinqüenta mil.
Temas não abordados
Mesmo o debate sendo mais empolgante que os do primeiro turno, temas relevantes ficaram de fora da discussão: previdência social (Serra afirmou que elevará o salário mínimo para seiscentos reais e dará um aumento de 10% nas aposentadorias, isto elevará o problema do déficit previdenciário já existente, quem pagará por isso?); os tributos elevadíssimos que atingem, sobremaneira, a classe produtiva; e a reforma política, que pode evitar políticos corruptos de se elegerem. Além de uma preocupação com o orçamento que hoje tem praticamente 25% de suas receitas de dispêndio direcionada para o funcionalismo público e a previdência social.
Seu comentario é equivocado caro amigo, Dilma foi infinitamente superior a Serra. E isso nao sou eu quem falo e sim os principais cientistas politicos do Brasil.
ResponderExcluirParabéns Dilma pelo seu ótimo desenpenho.