Segurança: eleitor cobra. Candidatos prometem
Em tempos de campanha eleitoral, alguns temas se tornam recorrentes, tanto do lado governista quanto por parte dos oposicionistas. A Folha foi às ruas ouvir as demandas da população e inicia neste domingo uma série de cinco reportagens com as propostas dos candidatos para as áreas de Saúde, Educação, Infraestrutura, Economia e Segurança Pública. Esta última figura entre os principais, senão o mais lembrado nas promessas e nas cobranças dos eleitores. Moradora de Santo Amaro desde 1984, a vendedora Maria de Fátima Santos, de 56 anos, nunca ouviu falar tanto de seu bairro. Santo Amaro está na mídia, em manchetes positivas. Todos os índices de redução de violência apontam a comunidade como exemplo nacional. Maria concorda, mas apressa-se em registrar uma queixa: “As drogas estão tomando conta daqui. Realmente a matança diminuiu bastante, mas quando baixa a noite, sobe o cheiro de droga em todo canto por aqui”, conta ela. Nesta eleição, Maria quer a redução do consumo de drogas na pauta dos candidatos. “Não aguento mais promessas. O que nós precisamos é de ações”, resume.
Já uma comerciante da Torre que, com medo, preferiu não ter seu nome publicado, conta que a situação no bairro é crítica. “Aqui tem lei: é a lei do silêncio”. Questionada sobre qual poderia ser a solução, ela revela uma completa incredulidade diante do cenário. “A única hora que você tem segurança em Recife é de três da madrugada, porque os ladrões já estão cheios de dinheiro no bolso e bebendo”, afirma. Morador do mesmo bairro há mais de 20 anos, o designer Eduardo Peixoto afirma que falta policiamento e um núcleo do projeto Polícia Amiga dentro da comunidade. “O que mais assusta é que a nossa casa, teoricamente, seria um lugar mais seguro, e nem aqui a gente sente mais paz”, lamenta.
Os relatos ilustram os dados do último levantamento divulgado pela Secretaria de Defesa Social (SDS). Os números apontam para um aumento nos crimes como assaltos e sequestros no período de um mês, de junho para agosto de 2010, em bairros de classe média, como o da Torre, que registrou o crescimento de 104,82% nas ocorrências. Já em bairros periféricos, como o Cabanga, pode-se verificar queda de 80% nos homicídios neste mesmo período.
Pesquisador do Núcleo de Estudos em Instituições Coercitivas e da Criminalidade (NICC) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), José Maria Nóbrega reconhece que houve avanços com as políticas públicas do atual Governo, mas apresenta dados alarmantes. Aponta que entre os anos de 1994 e 1998 houve uma explosão nos assasinatos em Pernambuco, que passaram de 2,55 mil para quatro mil por ano, segundo dados coletados junto ao Sistema de Saúde dos Municípios. Em 2010, conforme o pesquisador, a projeção, “até dezembro, é de 4.025 assasinatos entre homicídios e latrocínios”. Em 2009, foram 4.016.
“Pernambuco amarga uma taxa de 49 assassinatos para cada 100 mil habitantes. Isso mostra que estamos com dados de guerra civil. A Organização Mundial de Saúde (OMS) aceita uma taxa de dez para cada 100 mil habitantes, ou seja, nossa taxa é quase cinco vezes mais do que o tolerável”, alertou o especialista. A solução, na opinião de Nóbrega, é uma ação integrada com políticas de repressão baseada na inteligência.
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