Análise do primeiro debate das eleições 2010 em Pernambuco


Debate reafirma polarização, expõe disputa personalista entre Jarbas e Eduardo sem lançar luzes sobre o futuro

POSTADO ÀS 01:52 EM 13 DE Agosto DE 2010
Blog de Jamildo (JC Online)

O primeiro debate entre os candidatos ao governo do Estado na TV Clube, nesta noite de quinta-feira, decreta de fato o começo oficial da campanha de 2010. É verdade que, para quem acompanha o dia a dia dos candidatos por ofício, não houve maiores novidades. No entanto, o grande público deve ter ficado surpreso com o alto astral dos candidatos, o confronto de ideias e a demarcação de espaços políticos bastante claros. Em comparação ao primeiro embate nacional, o debate local foi mais quente.

A temperatura estava tão alta, aliás, que os dois principais contendores, Jarbas e Eduardo, reclamaram em alto e bom som no último intervalo. “Vamos desligar este ar-condicionado que ninguém está aguentando não!”, criticou Jarbas, com sua peculiar ironia. “Apoiado”, emendou Eduardo, abanando os dois lados do paletó.

A principal falha do debate - que não pode ser atribuída à produção - foi mesmo a falta de propostas. Os candidatos apenas jogaram luzes sobre o passado e pouco tratou-se do futuro dos pernambucanos.

Eduardo saiu-se muito bem, respondendo a todos os questionamentos sem hesitação. Ele chegou ao recinto do debate com uma expressão tensa, mas depois pareceu desanuviar.

Na minha opinião, a única pisada na bola foi o gracejo com a idade do senador do PMDB. Depois de ter sido questionado por Jarbas sobre a necessidade de importação de trabalhadores de outros estados, por problemas na educação ou falhas na capacitação técnica dos trabalhadores em Suape, Eduardo respondeu com uma ironia. “Não me interessa reviver essa briga que começou com o meu avô no século passado”.

Para mim, pareceu preconceito de idade. Quantos eleitores de mais idade podem ofender-se com a comparação? Jarbas reclamou no ar. “Tenho medo de expedientes deste na campanha, esse negócio de século passado, século presente. (Eduardo) Quando é apertado, fica acuado”, declarou. No mesmo bloco, Eduardo deu uma resposta mais adequada. “Quando o senhor era governador, FHC presidente e Maciel vice, não trouxeram nem a refinaria. Hoje, de cada dez empregos, nove são de pernambucanos. O que importa é ver a economia crescendo”, afirmou.

Um dos pontos fracos da argumentação de Eduardo pode ser a questão da interiorização. Tanto que, sem muita segurança, Eduardo prometeu usar Suape como alavanca para levar mais projetos para o interior do Estado. Numa farpa ao adversário, disse que elevou os investimentos do Estado. “Sem vender nada”, declarou, numa referência à privatização da Celpe.

Em desvantagem nas pesquisas, Jarbas fez o que se esperava dele e frustrou quem esperava tiros de bazuca. Preferiu as farpas, as insinuações, o apontamento de contradições entre o discurso e a prática do socialista.

No ataque, Jarbas arrematou uma série de críticas ao adversário, incluindo a denúncia de que o atual governador trocava obras por votos ao cooptar os adversários.

Na primeira delas, insinuou superfaturamento, ao informar que os hospitais iriam custar R$ 45 milhões e chegaram a R$ 90 milhões.

Fora do ar, Eduardo apressou-se em explicar que os hospitais são mais caros porque foram ampliados em seu projeto original, para comportar mais leitos e melhores equipamentos. Ao negar a suposta cooptação, disse que muita gente já havia votado com o avô Miguel Arraes. Ou seja, não fazia cooptação, mas apenas recebia adesões.

O debate também confirmou a estratégia situacionista de jogar Jarbas e Maciel contra a população usando a alta popularidade de Lula no Estado. Por mais de uma vez, Eduardo apresentou Jarbas como adversário de Lula no Senado e crítico do bolsa família. A manobra já havia sido explicitada na primeira visita de Lula com Dilma a Garanhuns. Um dia antes, o candidato a senador pelo PT Humberto Costa pregou o mesmo discurso, na inauguração do comitê do deputado federal Pedro Eugênio.

“Lula tem sido atacado no Senado de forma desproporcional ao que fez por Pernambuco. Ele (Jarbas) não bateu em FHC quando ele negou a refinaria para Pernambuco e obrigou a vender a Celpe para construir estradas”, atacou Eduardo.

A resposta, no entanto, foi objetiva e dada à altura, pelo menos para quem privilegia o aspecto ético dos governos. “Não vou deixar que a corrupção tome conta de tudo só porque o presidente Lula tem um elevado índice de aprovação nas pesquisas”, declarou. “Não fui para Brasília para ser um adesista. Fui para a oposição, de forma altiva”.

Na disputa entre os dois principais contendores, não faltaram momentos de descontração.

Ao falar de segurança, Jarbas sugeriu a Eduardo que perguntasse ao teleespectador se ele tinha coragem de sair de casa e dar uma volta no quarteirão de sua casa.

Noutro lance, chamou Eduardo de teatral - ‘Ele está dramatizando as coisas. Não chamei Lula de ignorante’, depois de o socialista ter perguntado se ele havia mudado de idéia sobre o bolsa família e Lula.

Pequenos partidos

Em função das regras estabelecidas pela produção, até os nanicos tiveram oportunidade de contribuir com o debate, ao permitir que outros temas vissem a tona. Os dois primeiros blocos, muito fracos em termos de questionamentos, acabaram servindo para que os contendores aliviassem o nervosismo inicial.

“Você acha que eu me senti acuado?”, ria o governador-candidato, no final do encontro.

Saudades de Kátia Telles

Quem fica abaixo da crítica é mesmo o candidato do PSTU, Jair Pedro. Brigado com a língua portuguesa, o rapaz esforça-se para ser um proto-Lula. Numa de suas piores sugestões, prometeu que iria devolver o dinheiro descontados dos servidores que fizeram greve! Só pode ser maluco. Se há uma medida acertada do governo Eduardo é esta responsabilização, no bolso, de movimentos grevistas irresponsáveis, que só prejudicam a população. Se não trabalhou, tem que receber porquê?

Jarbas chegou a ironizar o discurso de que ninguém presta de Jair Pedro - aquele do PT do tempo da defesa da ética - ao dizer que ele reclamou tanto de ex-governadores que esqueceu de apresentar a pergunta que lhe cabia.

Candidato Verde

O verde Sérgio Xavier, apesar de parecer moderno, embalado para presente, não chega a convencer quando promete criatividade nas ações do Executivo. Com a palavra em várias oportunidades, não disse como se materializaria essa diferença. “Quero a imaginação do poder”, afirmou. Noutra oportunidade, disse que gostaria de criar empresas dentro de comunidades mais pobres, supostamente para criar oportunidades de trabalho. Eu gostaria de achar petróleo, assim todos ficariam ricos sem nem trabalhar, numa redução de jornada que até Jair Pedro concordaria. No debate, Jarbas lembrou que essas pessoas estão passando fome e podem não estar capacitadas.

O momento mais lúcido ocorreu quando acusou o Estado de ter sido incompetente ao não evitar os problemas ambientais que acarretaram as enchentes na Mata Sul. “Se a prevenção e cuidados com os ribeirinhos tivessem sido tomado, a tragédia não teria ocorrido”. Vangloriou-se de ser o único partido a colocar o tema no programa de governo. Posso estar desinformado, mas não tomei conhecimento feito pelo PV sobre a situação, antes do fato consumado.

Fidel sem barba

Numeriano soa repetitivo ao sugerir agora quatro hospitais, como fez Eduardo para se eleger. No ar, criticou até o projeto de estádio da Copa do Mundo, afirmando, sem dispor de provar, que haverá desvios, com superfaturamento. O mesmo discurso adotado por Jair Pedro. Não dá para responder pelo eleitor nem pelo telesoectador, mas a mim me parece demagogia barata. No debate, chegou a sugerir a reestatização da Celpe? Na mesma semana, aqui na CBN, defendeu o socialismo de Cuba, não precisando dizer mais nada.

Nosso Plínio

Edilson Silva, do PSOL, não repetiu os melhores momentos de outras campanhas e ainda cometeu pelo menos um impropriedade. Ao tentar criticar o projeto de atração de uma usina nuclear para o Estado, disse que a constituição do Estado não permitia. Sugeriu um plebiscito para decidir a questão, porque o governador e os deputados que estão aí não poderiam resolver a questão isoladamente. As leis estaduais sobre o veto são todas inconstitucionais, pois cabe apenas à União legislar sobre o tema. Ponto. Assim, por vias tortas, acabo concordando com ele quando diz que tem muito discurso por aí precisando de sintonia com a realidade.

Numa comparação que eu julgo demagógica, Silva também disse que o estado vai gastar mais de R$ 500 milhões no estádio da Copa enquanto o combate ao crack não teve mais de que R$ 50 milhões. Seria a prova de um governo que não cuida do social, que cabe na proposta da Lei de Responsabilidade Social. Quem há de provar que gastando-se R$ 500 milhões o problema estaria resolvido?

O debate sobre a segurança, como não poderia deixar de ser, não ficou de fora do primeiro combate. Os marqueteiros de Eduardo aproveitaram uma acusação de Jair Pedro para encaixar o Pacto pela Vida, que não havia entrado no debate até então. Jair Pedro, com sua leitura peculiar dos fatos, reclamou de uma delegacia da SDS que, no governo Jarbas, recebia denúncias de crimes como roubo de energia. Eduardo apressou-se em explicar que não ocorreu no governo dele e emendou com a idéia de que a polícia era usada para buscar e prender bandidos.

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