Achismos e pesquisas


Por Adriano Oliveira - Cientista Político

O “achismo” faz parte da cultura marqueteira brasileira. Políticos também usam do “achismo” para analisar a competição eleitoral. Achar algo não significa nada. Aliás, não diz nada. Vejam só: “Eu acho que o candidato X perde a eleição”. O que esta assertiva, tão comum nos ambientes político e publicitário, revela? Apesar de não revelar nada, atores insistem em achar.

Mesmo diante de pesquisas, atores persistem em achar. Achar o quê? Achei o gato. Achei a régua. Achei os números. Achei quem vai ganhar a eleição. Não é adequado achar quem irá ganhar a eleição. Adequado é construir cenários para saber quem irá vencer a competição eleitoral.

A construção de cenários depende de três ações fundamentais: 1) Análise de conjuntura; 2) Análise de pesquisa qualitativa; 3) Análise de pesquisa quantitativa. Estas três ações são interdependentes. Através delas, é possível construir cenários e prevê o resultado da disputa eleitoral.

Analisar a conjuntura significa decifrar o comportamento e os interesses dos atores. Significa também decifrar as variáveis econômicas, emocionais e políticas que podem interferir na disputa eleitoral. A análise da conjuntura auxilia a formulação de cenários. Os analistas que fizeram uso da análise de conjuntura no início deste ano descobriram antes dos que “acham” que Dilma cresceria e que Eduardo Campos disputaria a reeleição com condições políticas favoráveis.

As pesquisas qualitativas e quantitativas revelam o que o eleitor pensa e deseja. Não é novidade que o eleitor está satisfeito com a economia. Portanto, ele deseja que o seu bem-estar se mantenha. Mas isto não significa que ele já fez a sua escolha. A opinião dos eleitores não é estática. É mutável. Portanto, o guia eleitoral pode vir a modificar dada realidade. É possível que o eleitor acredite que o seu bem-estar será mantido com a vitória do competidor oposicionista.

O que o eleitor pensa de uma candidata que participou da luta armada? Qual a opinião do eleitor sobre um candidato que foi ministro de FHC? Quais os atributos do candidato que importam para o eleitorado? A história do candidato determina a escolha do eleitor? O que é um candidato competente para o eleitor? De que forma o presidente Lula influencia no processo eleitoral?

Estas indagações podem fazer parte das pesquisas qualitativas e quantitativas. Através delas, o estrategista adquiri condições de criar o discurso do seu candidato e de posicioná-lo nas diversas etapas da disputa eleitoral. O início do guia eleitoral poderá mudar as opiniões dos eleitores, as quais tinham sido decifradas anteriormente. Deste modo, é necessário o acompanhamento freqüente do comportamento dos eleitores.

Não sou precipitado quanto a qualquer disputa eleitoral. Não opto pelo “achismo”. Analiso fatos. Neste instante, é possível sugerir os candidatos favoritos nas disputas presidencial e local. Mas ainda são imprevisíveis os resultados finais de ambas as disputas. O guia eleitoral é fonte informação para os eleitores.


Retirado do Blog do Instituto Maurício de Nassau

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