Maioria dos jovens já viu vítima de homicídio
Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostram ainda que 30% deles já sofreram algum tipo de violência
Conclusões foram tiradas a partir de duas pesquisas; na capital paulista, 13% afirmaram já ter presenciado um homicídio
AFONSO BENITESDA
REPORTAGEM LOCAL (Folha de São Paulo, 25 de novembro de 2009)
A violência se incorporou à rotina do jovem brasileiro. A maioria (55%) diz ter visto corpos de pessoas assassinadas nos últimos 12 meses e 30% relatam que já foram vítimas de algum tipo de violência. Os dados são de duas pesquisas coordenadas pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública a pedido do Ministério da Justiça e divulgadas ontem, em São Paulo.
Uma delas, feita pelo Instituto Datafolha entre junho e julho deste ano, mede a percepção que 5.185 jovens de 12 a 29 anos têm da violência em 31 cidades. O outro, elaborado pela Fundação Seade com dados de 2006, cria um índice que avalia a vulnerabilidade dos jovens à violência em 266 cidades com mais de 100 mil habitantes.
Para o menino Saulo (nome fictício), 13, que mora na favela Jardim Filhos da Terra, na zona norte da capital paulista, assistir a assassinatos virou "coisa comum". Em menos de um ano, ele já viu duas pessoas serem mortas no bairro -uma pela polícia e a outra, durante tiroteio no meio da rua. Saulo conta que já apanhou várias vezes em casa e até de policiais."É normal a gente ver pobre apanhando. Eu mesmo já apanhei de policiais. Nessas horas a gente fica com raiva da polícia e olha para o pessoal da boca [de fumo] de outro jeito", diz.
Pelo Datafolha, 30% dos jovens se encontram na faixa dos que estão em constante contato com a violência -eles frequentemente são agredidos (muitos pela família), veem ações violentas (como assassinatos e agressões policiais) ou têm acesso facilitado a armas de fogo, entre outros aspectos.Na capital paulista, 13% dos entrevistados disseram já ter testemunhado um assassinato.
Naturalização do crime
Para o sociólogo Ignacio Cano, do Laboratório de Análise da Violência da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), os dados são "extremamente preocupantes". "A convivência com a violência significa primeiro a vitimização; segundo, a naturalização e uma intimidade com ela. Os jovens passam a aprender com a violência e acham que é um método legítimo para resolver conflitos."A assessora especial do Ministério da Justiça, Regina Miki, diz ver a pesquisa de uma outra perspectiva: "Quase 70% dos jovens estão distantes da violência".
Agora, o foco do trabalho, segundo ela, deve ser descobrir como esses adolescentes conseguiram escapar da criminalidade e mostrar os exemplos para os demais.As pesquisas, inéditas, serão usadas para nortear ações do Ministério da Justiça.Para o diretor-executivo do Instituto Sou da Paz, Denis Mizne, é preciso entender como o jovem "processa a violência que vê". "Quando o jovem está exposto à violência, se ele tiver um problema na aula, depreda a escola. Se não gosta que mexam com a namorada dele, mata.
Esse é o repertório dele", afirmou no evento de ontem.Para o secretário do fórum, Renato Sérgio de Lima, os dados são graves, mas estão longe de demonstrar um caos na segurança pública. "Os problemas podem ser solucionados."
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