Um estado menos desigual, mas violento

Por José Maria Nóbrega Jr. – Professor e Pesquisador, cientista político, Mestre e Doutorando pela UFPE.


A Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro) lançou a 3ª edição da Pesquisa Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM). Este indicador compara os dados oficiais de 2000, 2005 e 2006 em três setores: emprego e renda, educação e saúde. São considerados, por exemplo, a geração de vagas de trabalho formal, a taxa de matrícula na educação infantil e o número de consultas pré-natal. Em Pernambuco o IFDM (que mede entre 0 e 1) foi de 0,6394 (quanto mais perto de um, melhor o desempenho do indicador). Dos 185 municípios de Pernambuco, 138 deles, ou o equivalente a 74,6%, apresentaram evolução nos indicadores mensurados na pesquisa da Firjan. No Nordeste, Pernambuco ficou atrás apenas de Sergipe, obtendo o 13º lugar a nível nacional (Moura e Braga, 2009: C4).


Contudo, quando avaliamos a relação entre estes indicadores e o índex de homicídios, o resultado, para alguns municípios, é inverso. Isto é, menos desigualdade medida pelo IFDM e mais homicídios. Por exemplo, entre 2005 e 2006, como se comportou os homicídios nos sete municípios com os melhores resultados, segundo a pesquisa apontada?


Vejamos a tabela abaixo:



Analisando os dados expostos acima:

1. Recife teve uma melhoria no indicador socioeconômico IFDM com incremento nos números absolutos de homicídios;

2. Caruaru apresentou melhoria no indicador socioeconômico IFDM com redução nos números absolutos de homicídios;


3. Jaboatão dos Guararapes apresentou melhoria no indicador socioeconômico IFDM com redução nos números absolutos de homicídios;


4. Olinda apresentou melhoria no indicador socioeconômico IFDM com redução nos números absolutos de homicídios;


5. Cabo de Santo Agostinho apresentou piora no indicador socioeconômico IFDM com redução nos números absolutos de homicídios;

6. Vitória de Santo Antão apresentou o maior impacto de melhoria no indicador socioeconômico IFDM, mas com incremento mais expressivo nos números absolutos de homicídios;

7. Paulista apresentou melhoria no indicador socioeconômico IFDM, mas com incremento expressivo nos números absolutos de homicídios com mais de 50 mortes de 2005 para 2006.

Isto nos revela alguns pontos que, apesar do pequeno número de casos e de um curto período de análise, nos sugere algumas hipóteses:

Três dos municípios apontados (Recife, Vitória e Paulista) apresentaram melhoria nos indicadores socioeconômicos com relação/associação inversa com os dados de homicídios (Proxy de violência). Um deles, Cabo de Santo Agostinho, teve piora no indicador IFDM, com redução dos homicídios. Isto sugere a hipótese (1ª) na qual não há relação entre desigualdade e violência.

Três dos municípios apontados (Caruaru, Jaboatão e Olinda) apresentaram melhoria nos indicadores socioeconômicos relacionando positivamente com a redução dos homicídios. Sugerindo a hipótese (2ª) na qual a melhoria nos níveis de desigualdade diminui o risco de violência.

No geral, parece não haver relação entre melhoria dos indicadores sociais e econômicos e a redução da criminalidade homicida. Quatro dos sete municípios apontados reforçam esta sugestão, fortalecendo o sucesso de comprovação da hipótese primeira.

Referência:

MOURA, Aline e BRAGA, Ana (2009), “Um estado menos desigual” in Diario de Pernambuco, Vida Urbana, C4. 23 de agosto.

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