SEMIDEMOCRACIA: FFAA X SEGURANÇA PÚBLICA
Exército impõe toque de recolher em favela do Complexo do Alemão, denunciam moradores
Hanrrikson de Andrade
Especial para o UOL Notícias
No Rio de Janeiro
Um grupo de moradores do Complexo do Alemão que protestava contra a ação dos militares da Força de Pacificação foi reprimido com violência pelos soldados que estavam de guarda na madrugada desta terça-feira (6), nas proximidades da estação Itararé do teleférico do Alemão.
Segundo uma moradora da favela da Grota, o Exército impôs toque de recolher e efetuou disparos de balas de borracha para conter os manifestantes. Há relatos ainda não confirmados de que o fornecimento de energia chegou a ser interrompido no local a pedido do Exército.
"Fui visitar uma amiga e tive que dormir na casa dela, não podia nem chegar na janela. Os soldados estão com raiva e os moradores estão voltando a ter o mesmo medo que existia na época que os traficantes estavam aqui", disse ela, que pediu anonimato.
O conflito ocorreu no mesmo lugar onde, na noite do domingo (4), um pelotão de aproximadamente cem soldados interveio de forma truculenta para mediar um pequeno conflito.
A reportagem do UOL Notícias tentou entrar em contato com a chefia do Estado Maior da Força de Pacificação e com o Comando Militar do Leste, mas não obteve resposta até o momento.
Na segunda-feira (5), a Força de Pacificação já tinha sido alvo de uma manifestação promovida por mototaxistas do Complexo do Alemão, possivelmente insatisfeitos com a fiscalização rigorosa.
Pelo menos cinco foram presos e conduzidos para uma base militar situada na comunidade da Fazendinha, de acordo com informações do Exército.
Os motoqueiros fizeram várias fogueiras nas proximidades da favela Nova Brasília a fim de impedir o tráfego entre a estrada do Itararé e a avenida Itaoca - e o trânsito só foi normalizado após o trabalho do Corpo de Bombeiros.
Investigação
O Ministério Público Federal (MPF) abriu inquérito civil para investigar a atuação dos militares envolvidos no conflito com moradores do Complexo do Alemão no domingo (4).
O procedimento será vinculado à apuração de incidente similar que aconteceu na Vila Cruzeiro, no dia 24 de julho, quando militares usaram spray de pimenta e balas de borracha contra moradores que estavam em um bar.
Segundo o MPF, as procuradoras Gisele Porto e Aline Caixeta estiveram na comunidade para ouvir os responsáveis pela Força de Pacificação. Elas receberam um relatório do general Cesar Leme Justo e do coronel Nilson Nunes, mas ainda irão ouvir a estudante Elaine Moraes, que deu entrada no Hospital Getúlio Vargas com uma bala de borracha alojada na boca, e outras vítimas do conflito.
No fim do mês passado, a Secretaria de Segurança Pública do Estado solicitou ao governo federal que mantivesse as tropas até pelo menos junho de 2012 --anteriormente, a expectativa era de que uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) fosse instalada na comunidade entre outubro e novembro deste ano. O morro foi ocupado pelas forças de segurança em novembro do ano passado.
O Ministério Público Federal diz que, a partir de questionamentos da sociedade, promoverá debate no dia 6 de outubro para discutir a constitucionalidade da atuação do Exército na Segurança Pública. O debate será na sede da Procuradoria da República no Rio, com presença de juristas, representantes do Comando Militar do Leste e representantes da sociedade civil.
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