Crack atinge 98% das cidades

Publicado em 14.12.2010 - Jornal do Commercio



Dado foi tirado de pesquisa da Confederação Nacional de Municípios, que atribui o problema à ineficácia dos programas federais de combate às drogas

BRASÍLIA – O consumo de crack já se alastrou pelo País, atingindo sem distinção grandes centros urbanos e zonas rurais, aponta pesquisa da Confederação Nacional de Municípios (CNM) divulgada ontem. O levantamento, feito com 3.950 cidades, mostra que 98% dos municípios enfrentam problemas relacionados à droga. Os 2% onde o crack ainda não está presente são de populações bem pequenas, como a gaúcha Dilermando de Aguiar (7 mil habitantes) e a catarinense Bom Jesus do Oeste (3 mil). Todas as cidades do País foram contatadas, mas nem todas responderam.

“Estamos falando de uma geografia do crack”, disse o presidente da CNM, Paulo Ziulkoski. “O problema alcançou uma dimensão nacional. Não está mais nas grandes cidades, mas nas áreas rurais.”

Para a confederação, a principal promessa para conseguir alterar essa realidade, o Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e Outras Drogas, lançado em período pré-eleitoral, “não aconteceu”. O governo federal contesta.

Conforme o estudo, até agora, apenas 3,39% das cidades brasileiras fizeram convênio com o governo federal para conseguir recursos do plano, lançado em maio. A CNM alega que o plano limitou o acesso dos municípios às ações ao estabelecer como requisito para os beneficiários população acima de 20 mil habitantes.

O estudo conclui que uma das grandes dificuldades apresentadas é o financiamento das ações, que tem persistido em forma de subfinanciamentos em todos os programas ou políticas de governo. Apenas 24,6% das cidades pesquisadas recebem auxílio financeiro do governo federal, 13,8% do estadual e 3,6% de outras instituições. A maior parte dos municípios que já estão com o plano contra o crack em execução utiliza recursos próprios para enfrentar o problema, totalizando 62,4%.

A Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas (Senad) rebateu as críticas, alegando que dos R$ 410 milhões previstos para o plano este ano, R$ 285 milhões estão sendo executados. Já teriam sido destinados pela Senad R$ 73 milhões para a abertura de leitos em hospitais e comunidades terapêuticas, criação de Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASFs) e capacitação de agentes que atuam na rede de atendimento ao usuário de drogas, entre outras ações. “Na verdade, o plano vem tendo uma implementação extremamente positiva e uma execução satisfatória”, afirmou a secretária-adjunta da Senad, Paulina Duarte.

Paulina classificou como “temerário” o dado de que 98% dos municípios brasileiros enfrentam problemas com crack. “Se nós fizermos um estudo epidemiológico, não vamos encontrar nenhum município sem caso. Agora, há lugares com consumo maior, outros menores”, argumentou.

Segundo ela, os municípios com menos de 20 mil habitantes foram contemplados em editais e liberações de verbas pontuais – ao contrário do que diz a CNM.

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