O tráfico no RJ

Por Adriano Oliveira
cientista político e coordenador de pesquisa do Instituto Maurício de Nassau

1. A queda do helicóptero no Rio de Janeiro em conseqüência do ataque de traficantes chamou a atenção da imprensa e da opinião pública em razão do fato ser inédito. Por ser inédito, mais uma vez, o problema do tráfico de drogas volta a ser preocupação da sociedade, dos atores políticos e da imprensa. Com o tempo, quando o tráfico voltar ao normal, esqueceremos, infelizmente, o corrido.
2. Isto mesmo: quando o tráfico voltar ao normal. Ele volta sim. Basta apenas que as polícias não atrapalhem a atividade do tráfico nos morros. Quando ela atrapalha, conflitos surgem. Portanto, quando o contexto está calmo, isto não significa que o tráfico foi controlado pelas polícias. Mas que ela não está agindo como deveria.
3. A calmaria deixa de ocorrer também, no instante em que grupos criminosos decidem disputar outros mercados. Neste caso, territórios são invadidos. As bocas de fumo estão presentes nos territórios. Os seus proprietários controlam o espaço territorial em que elas estão localizadas e o mercado consumidor. Portanto, o conflito ocorre em razão da disputa pelo mercado.
4. A guerra do tráfico é provocada por grupos criminosos? Sim, mas qual é o poder destes? O poder de um grupo criminoso deve ser verificado através de dois âmbitos, quais sejam: a) poder econômico (devo esta consideração a Jorge Zaverucha); b) poder político. Quando mais recursos econômicos uma organização tiver, mais condições ela tem de angariar poder político, no caso, conquistar atores estatais, os quais colaborarão com as suas atividades.
5. O tráfico no Rio terá fim? Obviamente que não. Mas pode ser amenizado. Vejam que as milícias – novo fenômeno social encontrado na capital fluminense e em outras capitais – conseguiram, segundo relatos (desconheço estudos sobre isto), expulsar o tráfico. Então, por que o estado não consegue o mesmo?
6. Criticar a ação do governo fluminense é hipocrisia. Assim como outros governos, a reurbanização das favelas cariocas não foi prioridade. Mas não basta apenas isto. A reurbanização (ou urbanização) depende do crescimento econômico, pois este possibilita a organização urbana. No entanto, é necessário lidar com o mercado consumidor. Como reduzir a demanda? E, também, atentar para a importância do combate coercitivo. O comercio de drogas precisa ter custo. Para isto, é necessária ação coercitiva.
7. Por que o tráfico é intenso em diversos países, mas não violento? A associação entre tráfico e pobreza, a qual é verificada em países como México e Brasil, torna o tráfico violento. Por isto, a importância da inclusão social e do crescimento econômico.

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