O Senado e Sarney

Por José Maria Nóbrega – cientista político
Será que o possível afastamento de Sarney seria suficiente para mitigar práticas patrimonialistas dentro do Senado brasileiro? Não acredito nesta remota possibilidade. O Senado, independente da figura lamentável de seu presidente – e alguns ex-presidentes -, é uma instituição que tem em seu âmbito uma cultura de nepotismo, clientelismo e patrimonialismo que perpassa os escândalos corriqueiros a que estamos acostumados a ver.
Os mais diversos atores políticos, das mais diversas cores ideológicas, se comportam na coisa pública como se ela fosse privada. Outros presidentes também se afastaram por escândalos privados (e domésticos) dentro do Senado. Empregar parentes em gabinetes e nos mais diversos setores da Casa é prática comum dentre boa parte dos senadores da Nova República.
Utilizar os recursos públicos com os mais diversos fins particularistas também é prática comum dentro daquela instituição. A cultura clientelística que nos envolve há séculos está fortemente presente dentro do Senado, é difícil prever mudanças institucionais com a simples reclusão/renúncia/cassação do presidente da Casa. A cultura importa e enquanto for a mesma, estimulando os mais diversos “homens cordiais” dentro da coisa pública, dificilmente haverá mudanças consistentes.
O presidente Lula afirmou que a biografia do indivíduo está acima das leis e que o “crime antecipado” (por favor, gostaria que um especialista na área Penal me explicasse o que é isto) cometido por Sarney, não pode ser julgado com a “pena de morte”, pois há diversos tipos de crimes e que eles devem ser julgados conforme o seu peso. Ora, Lula já afirma que houve crime! Mas, se é “hábito” do nosso Legislativo agir de forma corporativista em relação a atos patrimonialistas e exclusos com os recursos da população, pode até se afirmar que não houve crime, e muito menos decoro nos atos de Sarney.
Com isso, afirmo que dificilmente o afastamento do presidente do Senado terá algum impacto positivo no comportamento político do nosso parlamento.

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