Matéria da Veja: "Mamãe, eu quero mamar". Sobre a vida política partidária no Brasil.

Sobre o partidos políticos no Brasil: o que prevalece é a incoerência. Por exemplo, a união entre Democratas e o PSB, o primeiro partido advindo da Arena (Período Militar), foi PDS, depois PFL e agora DEM. O segundo, o PSB, que tem em suas bases no socialismo e no fim da propriedade privada.
A aproximação entre Kassab e Eduardo Campos é, no mínimo, controvertida, se estivermos, claro, partindo da premissa ideológica. Como a ideologia é o que menos importa, qual é o empecilho? Nenhum, claro!!

Patrimonialismo:

"Kassab e Campos não inventaram um jeito novo de sambar. Ao contrário do que ocorreu na Europa, onde os partidos surgiram com os estados modernos e se organizaram em torno de grandes doutrinas ideológicas, as siglas, no Brasil, sempre responderam a líderes, raramente a ideias" (PORTELA, 2001: 43).

As legendas no Brasil descendem dos três grandes partidos do período pós-Estado Novo (1945). UDN, PSD, PTB, PSB e PCB. "As matrizes da política brasileira foram criadas por conviniência, e não guiadas por um ídeário" (Idem: 43).

Há um processo de regionalização da política partidária brasileira. Voto distrital e em legenda seria uma solução? Não sabemos, mas acredito que melhoraria um pouco a política brasileira.

"Para o filósofo Denis Rosenfield, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, os partidos se tornaram federações de interesses regionais. 'A maioria está empenhada apenas em conquistar ou manter os poderes em seus pequenos feudos estaduais ou em defender sua própria burocracia partidária. O PT, por exemplo, não defende os interesses dos trabalhadores, mas os da cúpula das centrais sindicais" (Ib idem: 45).

O Brasil tem hoje 22 siglas, a sua maioria de aluguel e sem nenhuma expressão eleitoral, sem vínculo com a sociedade e o tão expressado "bem comum" (o que seria o "bem comum" numa sociedade tão heterogênea como a nossa?).

O "Legispassivo"

Como os partidos não se identificam com a sociedade, e desta 70% dos eleitores não se lembram em quem votaram no último pleito ao Congresso Nacional, o que impera é a "malemolência" dos parlamentares para com os interesses do executivo.

"Quem não é cooptado às claras faz corpo mole na oposição. 'O Congresso abriu mão de uma de suas funções primordiais, que é fiscalizar o Executivo. Os deputados não querem fiscalizar a Presidência. Querem verbas', diz o cientista político Roberto Romano. O adesismo automático das legendas ficaria mais difícil se elas fossem obrigadas a se organizar em torno de ideias claras e estivessem mais expostas à cobrança do eleitorado" (PORTELA, 46).

Ideologia

Com a nossa carga patrimonialista na formação do sistema político brasileiro não é de se espantar tal trágica disposição dos partidos por cargos e interesses pessoais. Contudo, é importante relevar que nunca no Brasil houve um partido de viés realmente liberal. Apesar de nas plataformas políticas de alguns partidos mais ligados à direita existir artigos que tratam da liberdade e da propriedade privada, até hoje os partidos não se propuseram de forma consciente e clara a respeito desses conceitos. Estamos esperando um partido realmente liberal e responsivo com suas propostas ideológicas.

Os partidos alinhados à esquerda mantém suas propostas ideológicas apenas no papel. Eram adeptos fervorosos dos conceitos marxistas, trotkistas e leninistas quando estavam na oposição. Quando governo, deixaram apenas as fotos dos sujeitos barbudos nas fundações e gabinetes dos partidos e dos eleitos pelo povo no último pleito.

A social-democracia aproximaria os partidos políticos, mas nem aí temos a defesa desses princípios tão caros ao conceito de democracia contemporânea.

Todavia, é de fundamental importância melhorarmos a qualidade política da sociedade brasileira, pois, na minha visão, reformas políticas não resultarão em melhores parlamentares sem a contrapartida da sociedade (Accountability Vertical).

Referência:
Revista Veja | edição 2207 | 9 de março de 2011

PORTELA, Fábio (2011), "MAMÃE, EU QUERO MAMAR". No Brasil, políticos trocam de fantasia sem medo do ridículo. Neste ano, a moda são os liberais disfarçados de socialistas, mas o enredo é o de sempre. pp. 41-47.

Comentários

Postagens mais visitadas